sábado, 7 de maio de 2016

ILUSÃO, REALIDADE, A PRAÇA.


12 HORAS

Qual é a diferença entre ilusão e realidade? Ambas existem e podemos vê-las e senti-las!
Bem, deixa-me ver: o meu dedo indicador esticado é uma realidade; entretanto, se eu o balançar em sentido horizontal, vou ver vários dedos, e isso já é uma ilusão de ótica!

O céu que vemos parece uma realidade, mas é uma ilusão, pois a luz demorou milhões de anos para chegar à terra e, portanto, o céu que vemos agora é o que existiu há milhares e milhões de anos (dependendo da distância dos astros).

A televisão também é uma ilusão. As imagens são apenas fotos, paradas, que só se tornam movimentadas porque nossa mente as retêm e dão a impressão de movimento! Faça duas figuras, uma em cada página, com apenas alguma coisa diferente, veja-as alternadamente e você verá que elas se “movimentam”. As duas figuras são verdadeiras, mas o movimento delas é uma ilusão de ótica...

Na vida espiritual ocorre muito disso. A riqueza, apesar de ser uma realidade, pode nos ser uma grande ilusão. Ela é uma realidade em si, mas procurar obtê-la a qualquer custo para nos tornarmos felizes, isso é uma ilusão.

Muitos tipos de religiosidade são ilusórios; entretanto, a caridade é uma realidade.

Onde estou agora, o que estou fazendo, é uma realidade inexorável. Se eu aceitar e curtir este momento, estou sendo real, verdadeiro. Entretanto, se eu estiver agora apenas com o corpo dentro deste momento, estou vivendo uma ilusão; ou seja, se eu ficar lastimando, rejeitando este momento, ou tentar me enganar dizendo que não é verdade que estou vivendo isto seria uma ilusão.

Olho ao meu redor e aposso-me da realidade em que estou. Tento tirar um proveito próprio disto tudo, prestando atenção nos detalhes, no que aqui está acontecendo...

...Estou numa pracinha. À minha frente, dois homens cinquentões jogam...como é o nome desse jogo? Vou perguntar-lhes! (...) Um deles me disse que se chama “playblade”. Consiste em jogar um dado e fazer caminhar pecinhas (eles adaptaram tampinhas de garrafa pet) sobre um tabuleiro pré-marcado. Não gosto do barulho que o copo faz quando batem o dado sobre a mesinha, dentro de um copo.

À minha direita, a uns 20 metros, quatro senhores de idades diferentes jogam dominó. O sol está forte, mas eu e eles estamos na sombra.

À minha esquerda, três jovens conversam gesticulando. Acho que estão contando um ao outro suas aventuras de ontem.

À minha frente, distante uns... 15 metros, a mãe conduz seus dois filhos a um portão, um pouco mais distante, onde um homem, sorrindo, já prepara os braços para recebê-los e abraçá-los. Ela traz uma sacola enorme no braço direito e até fiquei com dó!

No outro lado da rua, uma loja de móveis expõe alguns colchões, que estão ao sol. Será que não vai derretê-los? Acho que não... Há também dois tapetes bonitos de crochê à exposição. Um deles é enorme e acho que custa caro.

Mais à minha esquerda, tipo noroeste, um velho ouve com atenção um rádio que toca uma música em volume baixo. Não a ouço. Ele contempla um pássaro à sua frente.

O céu está com muitas nuvens, mas o sol consegue ludibriá-las. Choveu muito nestes dias, e hoje o tempo se firmou. Tudo está calmo. O vento é fraco. Os pássaros que aqui gorjeiam, desapareceram. Vi apenas quatro pardais se enfiando sob um telhado. Num poste, o cata-vento que alguém ali colocou com um “leme” para direcionar-se a favor do vento. Está quase parado! Funciona rápido e pára. Rápido e pára...

Eu até compus uma poesia sobre os pássaros que pararam de gorjear. Você quer lê-la? Se não quiser, pule-a!

O MUNDO MASSACRADO

“As aves que aqui gorjeiam”
deixaram de gorjear!
As palmeiras não mais se alteiam,
não trazem os sabiás!

Nosso mundo, antes bonito,
se enfeia a mais não poder!
Vejo isso tudo muito aflito,
é muito triste, custa-me a crer!

Em todas as áreas conspurcado,
dinheiro e poder estão na pauta!
Para ver tudo isto acabado,
muito pouca coisa ainda falta!

Mas... ainda resta uma esperança,
ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta o amor!
Ainda nos resta a bonança
de ter sempre Deus, nosso Senhor!

... O cata-vento! Quero ser o cata-vento de Deus, sempre voltado para a brisa de sua palavra salvadora! Quero sempre virar-me em direção em que ele está soprando! Vento, ruah, pneuma...palavras misteriosas que nos levam a um mesmo vocábulo, “espírito”, mas com sentidos diferentes!

O Espírito Santo, o “Vento Santo”, não tem esse significado. É como a palavra “pé-de-moleque”. Não é o pé e não é do moleque; é um doce de amendoim. Assim, o Espírito Santo não significa, como em hebreu e grego, “vento, sopro santo”, mas é o nome da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

Quero ser o cata-vento de Deus, sempre procurando fazer-lhe sua misericordiosíssima vontade, que também é santíssima e digníssima! Fazer a vontade de Deus é a coisa mais sábia que temos aqui na terra ou mesmo lá no céu: “Faça-se a vossa vontade na terra, como ela é feita no céu”! (Sermão da Montanha).

Sob a haste do cata-vento há algumas flores artificiais que um rapaz negro está vendendo. Há algumas samambaias verdes, feitas com garrafas-pet, lindíssimas! Vou perguntar o preço!(...) Ele me disse que custam dez reais a pequena e quinze a maior. Isso ficaria bonito em casa... mas não quero gastar dinheiro nisso.

Aproveitei a ida para comprar um picolé. Custa cinco reais o sorvete “prestígio” e dois reais o mais comum. Comprei um “prestígio” e dei um comum a um moleque que me pediu. Ele já se foi, pulando, alegre. O sorvete veio em boa hora! Está muito calor. 

Pois é! Tudo isso que eu lhes descrevi é a realidade. Será mesmo? Você me acredita? E se eu lhe estiver mentindo? Esta seria a realidade em que eu desejo que você creia. Se você estivesse aqui, talvez constatasse que que não há sol, que a praça não é uma praça mas um lugar mais ermo, que está talvez chuviscando, que não há mais ninguém aqui além daquele gato manhoso miando desesperadamente por fome ou por frio...

Para você, a ilusão que eu estaria criando seria uma realidade, como eu a descrevi. Mas, se eu estivesse mentindo, seria uma grande ilusão, uma fantasia. Eu estaria descrevendo algo que não existe! 

É assim que funcionam muitas religiões. O pastor ou o padre diz a você uma ideia em que ele acredita (ou achamos que ele acredita), mas que nem mesmo ele sabe se é uma ilusão ou uma realidade. Tudo é baseado na fé! Como é o céu? Alguém voltou de lá para dizer como é?

Agora eu peguei você. Sim, alguém veio de lá. Jesus! E ele disse como é o paraíso, com palavras humanas, comparações, alegorias. Ele é cidadão e dono do céu e disse em João 14,1ss: “Na casa de meu Pai são muitas as moradas, e se não fosse assim, eu vos teria dito! Vou até lá para preparar-vos um lugar”. O céu não é uma ilusão! É uma realidade! Mas cada um o imagina de modo diferente. Isso é uma ilusão: o modo como o imaginamos. 

Estou escrevendo isto de algum lugar do planeta, e isso é uma realidade. Mas estou cansado e vou parar. Os dois homens ainda jugam o playblade. Os do dominó ainda estão lá. O florista vendeu uma samambaia de garrafa pet. Os jovens já foram embora, assim como o sorveteiro. Apenas um detalhe: você sabia que os sorveteiros de rua não vendem sorvete do tipo “prestígio”? Eles só vendem daquele tipo de gelo no palito. Isso eu lhe menti. Eu comprei, mesmo, um sorvete tipo gelo de abacaxi. 

Agora são 13 horas e quinze minutos e vou embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário