terça-feira, 26 de abril de 2016

A VELA ESTÁ NO FIM...



A VELA ESTÁ NO FIM...


15/02/16

Quando nasci eu era uma vela enorme, nova, forte, chama viva e iluminadora. Agora, aos 71 anos de idade, sou uma vela quase no final, com manchas, frágil, chama fraca e quase não ilumino nada.

O passado tornou-se apenas lembranças esparsas, algumas já esmaecidas pelo tempo. Alguns colegas de escola ou de brincadeiras tornaram-se nomes de ruas; outros adoeceram; outros desapareceram.

Tenho ainda uma fita cassete, início dos anos 80. Estava perdida, mas eu a encontrei numa limpeza. Rebobinei-a, para “desgrudar” a fita e tentei ouvi-la: era a gravação que eu fizera com um amigo que faleceu dois meses após a gravação. Músicas bonitas, acompanhadas ao violão, que ele tocava muito bem. Uma delas é “Deus vem”, do Emaús: “Quando, às vezes pergunto, onde andará Deus, preciso encontrar. Peço ao tempo e ao vento: onde andará Deus, preciso encontrar! Então, Deus vem, de modo que eu nunca imaginei. Creio em ti, crês em mim, Deus sempre esteve bem perto de mim...”

Confesso-lhes que não consegui conter algumas lágrimas de saudade. O mundo está se tornando chato para mim. As músicas de que eu me lembro e gosto parece-me que só eu delas me lembro e delas gosto!

Outra coisa que me é difícil é lidar com esses benditos telefones celulares! Como eu os acho complicados! Só mesmo os meus netos conseguem entendê-los! Prefiro um daqueles bem simples, mas mesmo assim são complicados. Ainda prefiro o fiel telefone fixo, sem complicação alguma. Serve para telefonar, nada mais. Para que mais a gente quer um telefone? Não é para telefonar?

Eu ainda sou do tempo das novelas de rádio. Ah, que saudades da novela “O direito de nascer”! Anos 50, rádio Nacional do Rio e Nacional de São Paulo. Uma amiga da minha mãe (faleceu em 2019 com quase 100 anos de idade) a convidava para escutarem juntas a novela, e eu ia junto. Uma das rádios lançava no ar um capítulo mais adiantado que a outra, mas havia maior dificuldade em acessá-la. Era uma tarefa difícil ouvir o que o Albertinho Limonta falava para a mamãe Dolores! E aquela tia “azeda”, solteirona, que dizia: “É assim que eu sou! É assim mesmo que eu sou”! E alguém (não me lembro quem) cantava: “Te quiero, sabrás que te quiero, cariño como este jamás existió...” (veja no final da página)

Era um orgulho ouvir o capítulo antecipadamente, para fazer inveja aos que ainda estavam no capítulo anterior!

A novela durou um ano inteiro, e começou a ser conhecida, pelos maridos, como “O Direito de encher”. Era ouvida às 20 horas, logo após a Voz do Brasil. Aquela artista que depois fez sucesso na tevê, Vida Alves, dizia, com solenidade: “Senhoras e senhoritas! Colgate, o perfumador dos mais belos sorrisos, e palmolive, o sabonete das estrelas apresentam... (música) ...O Direito de Nascer! Uma novela de.... (nome da autora). 

Na verdade, não sinto saudades da novela em si, mas das circunstâncias em que eu a ouvia, do ambiente e da época em que a gente a ouvia.

Bem... minha vela está no fim, e eu assumo a realidade da minha velhice. Olho o ambiente em que vivo, a natureza, os percalços da vida, mas tudo se torna uma sinfonia agradável, que ofereço a Deus. Procuro viver nele e com ele, e isso faz a diferença! A vida eterna, que pretendo alcançar, é muito melhor do que esta, e lá reverei todos os meus colegas e amigos que já se foram. “Deus sempre esteve perto de mim...”!
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A música que era cantada no Direito de Nascer:


SABRÁS QUE TE QUIERO 

Cuando puedan mis noches
 hablarte y logren decirte 
lo que eres en mi,
 qué de cosas irán a contarte, 
cuántas otras sabrás tú de mi. 

Que te quiero,
 sabrás que te quiero, 
cariño como éste
 jamás existió,
 que mis ojos
 jamás han llorado 
como aquella tarde 
que te dije adiós.

 Que deseo 
volver a tu lado,
 tenerte conmigo, 
vivir nuestro amor. 
Que te quiero, 
sabrás que te quiero, 
porque eres mi vida,
 mi cielo y mi dios.

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