segunda-feira, 25 de abril de 2016

A FESTA


07/02/16

Numa festa paramos no tempo e no espaço. Deixamos de lado o nosso dia a dia, não levamos conosco os nossos problemas. É um oásis no nosso deserto. O passado é lembrado apenas nas conversas e nas piadinhas e quase não se fala no futuro.
Cada participante tem seus próprios problemas, mas porta-se como se nada o(a) afligisse.

Colocamos nossas “máscaras” de felicidade e bem estar, caprichamos na roupa, as mulheres capricham na maquiagem para não mostrarem os traços do envelhecimento. Tentamos mostrar que estamos “enxutos” e bem de vida.

Olhamos ao redor até encontrarmos alguém para despejarmos nossa vaidade. Quando encontramos, ficamos felizes, pois temos “plateia”.

Inicia-se, então, uma disputa de eficiência e conhecimentos. Se alguém conta uma piada, nós a rebatemos com outra, que julgamos melhor do que a ouvida. Na verdade, às vezes nem chegamos a prestar atenção à que fora contada, pois procurávamos em nosso “arquivo” uma melhor. 

Se o nosso interlocutor se queixa de uma doença, sem darmos a ele a devida atenção, logo achamos uma doença maior que a dele, que nos incomoda mais do que a dele (dela).

Se a conversa for viagens, nós sempre conseguimos achar em nosso “arquivo” mental (ou em nossa fantasia) uma muito superior à do (a) nosso (a) colega.

Se for sobre alimentação, minha nossa! Temos trabalho em encontrar um prato que nunca tenha sido experimentado pelo outro, e que lhe dê água na boca.

E se o assunto virar para futebol? Há algum time melhor do que o meu? 

Os automóveis... duvido que você tenha um como o meu!

Mas... o que realmente torcemos é que a pessoa pergunte sobre nossos filhos. Aí vai haver assunto para o restante da festa. Os meus filhos são muito melhores, muito mais inteligentes, muito mais espertos, muito mais paparicados do que qualquer outro. Sempre tira a melhor nota na escola. Qualquer coisa que nós ouçamos, vamos falar melhor em relação aos nossos filhos.

Final de festa. Satisfeitos pelos nossos engrandecimentos, deixamos um pouco de cerveja no copo para dizer que não bebemos muito e voltamos para casa com a “alma lavada”.

Em casa tiramos as nossas máscaras e recomeçamos nossa vidinha “chinfrim” com todos os limites, problemas, dúvidas, decepções, desânimos, raivas, projetos frustrados, afetos e desafetos de sempre, projeto de mandar reformar o carro que já não está se aguentando em pé, até que apareça outra festa, para podermos contar novas vantagens.


Como disse o poeta Carlos Drummond de Andrade na poesia “Cidadezinha qualquer”, “Êta vida besta, meu Deus”!

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