segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

ACEITAR-SE


O início de qualquer cura só acontece quando a pessoa toma conhecimento de seus limites e fraquezas e se aceita. Há pessoas, por exemplo, que não aceitam o próprio envelhecimento e acabam não aproveitando as coisas boas da velhice.

Disse D. Pedro Casaldáliga: “Deus nos aceita como somos para transformar-nos naquilo que Ele quer que sejamos”. E é a mais pura verdade. Precisamos estar sempre com os pés nos chão. Dizia também D. V. Tepe: “O bom-humor a respeito de nossos defeitos é uma faceta da humildade”.

A base da humildade está em reconhecermos e aceitarmos os nossos limites. À medida que formos nos conhecendo e nos aceitando, passamos também a conhecer e aceitar a Deus e aos demais, pois somos todos feitos à imagem e semelhança de Deus e somos irmãos. 

Na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18,10-14), este foi ouvido por Deus porque reconheceu sua insignificância. Diz também Mt 23,12: “E o que a si mesmo se exaltar será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Também Tiago 4,6 e 1° Pd. 5,5. Em João 22, 29-30: “Deus salvará ao humilde e livrará até ao que não é inocente”.

Quando somos humildes e nos aceitamos, nunca precisamos mentir para esconder nossa origem pobre, ou esconder a falta de capacidade em relação a isto ou aquilo. Isto quer dizer que se você não tem capacidade para fazer determinada coisa, assuma esse fato! Se seus pais são pobres e analfabetos, assuma esse fato! Se você nunca viajou a lugar algum, e esse for os assunto numa roda de amigos, mão minta! Você vai se sentir bem melhor, e não vai precisar inventar uma mentira para encobrir outra. Não queria mostrar ser o que não é. Ouça as aventuras dos amigos e nunca faça comentários irônicos e negativos das coisas que eles fizeram e você nunca fez.

Nós talvez não sabemos fazer o que os nossos amigos sabem, mas temos as nossas qualidades. Qualquer pessoa no mundo sabe fazer uma outra coisa. “Aquela senhora que mora naquela esquina é pobre, analfabeta, mas ninguém faz, como ela, bolinho de bacalhau! O que faz é delicioso! O marido dela não sabe pintar paredes, mas é o melhor colocador de piso que eu conheço”.

É o que diz Lc 16,10: “Quem é fiel nas coisas mínimas, é fiel também no muito”. Ou então Mt 25,23: “Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei”.

Jesus escolheu apóstolos entre pessoas que não tinham capacidade alguma. No A.T., Isaías achava-se indigno para ser profeta, mas Deus purificou-o e enviou (Isaías 6, 1-9). Elias, após ter matado 450 profetas de Baal, quis desistir e morrer, mas Deus reanimou-o, forçando-o comer pão e beber água, e ali segui a jornada (1° Reis 19, 8-15 e 17, 2-5) Jeremias quis desistir em Jer 20, 7-9, mas dizia que, ao tentar fazer isso, sentia o amor de Deus percorrer-lhe os ossos, como um fogo. Deus não aceitou sua desistência. S. Paulo disse ser “o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado apostolo” em 1° Cor 15, 9. S. João Batista disse não ser digno sequer de desatar as correias das sandálias de Jesus, em João 1, 27.

Maria diz em Lc 1, 48 “Deus olhou para a baixeza (= humildade, insignificância) de sua serva; pois eis que desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada”. Aceitar-se a si mesmo, conhecer-se profundamente, é a maior fonte de paz e alegria que uma pessoa pode desfrutar. Rir-se dos próprios defeitos é o melhor método de vencê-los!

Deus nos ama como somos. Aceitando-se como se é, a pessoa vai também aceitar em sua vida o próprio Deus e as demais pessoas, como elas são! Quando alguém lhe apontar algum defeito seu, antes de zangar-se, procure meditar sobre isso. Talvez o amigo tenha razão.


“Prefiro uma careta sincera a um sorrido fingido”. Ou, como diz Sto. Agostinho: “É melhor andar mancando no caminho certo do que correr no caminho errado”.

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