- 20/03/16
Hoje é Domingo de Ramos. Na leitura após a
procissão, lemos Lucas 22 e 23, a Paixão de Jesus. É impressionante o capítulo
22, vers. 61-62: “E virando-se, Jesus olhou para Pedro. E, saindo Pedro para
fora, chorou amargamente.
Quando o pai ou a mãe dão aquele olhar de
censura aos filhos, eles sentem medo e até choram por saber se virá ou não um
castigo.
Imaginem o olhar que Jesus deu a Pedro,
talvez um tanto distante um do outro (seria mais grave se estivessem perto!). O
olhar divino-humano de Jesus tem a pureza infinita do paraíso, marca como um
raio, tem o efeito do raio “X” em nossa alma.
Há algumas passagens sobre esse olhar
penetrante de Jesus: “E passando o olhar em cada um dos que ali estavam...” (Lc
6,10 e 9,47). Jesus lia os pensamentos dos que o circundavam, e seu olhar os
deixavam inseguros e sem ação.
Diz Flávio Josefo, historiador pagão do
início do cristianismo, que ninguém jamais viu a cor dos olhos de Jesus, pois
ninguém conseguiu fita-lo frente a frente. Seu olhar era mais penetrante que um
espinho na pele!
Assim ocorreu com Pedro. O olhar que Jesus
lhe deu projetou à sua frente não apenas a tripla negação que acabara de fazer,
mas também os pecados passados. Que pena Judas não ter tido a mesma reação de
Pedro! E talvez Jesus também tivesse olhado para ele, quando disse, em João: “É
aquele que pôr comigo a mão no prato”. Será que Judas estava tão faminto que
não olhara para Jesus, mas só para o prato? Talvez... e isso lhe custou uma
morte indigna, o suicídio.
Em nossa vida também fazemos muito isso.
Ficamos tão interessados nos “pratos” que o mundo nos oferece, que não
percebemos o olhar que Jesus nos está lançando, não tanto de censura, mas
oferecendo-nos o seu amor, o seu perdão e a sua força para vencermos.
A humildade é a base de tudo, sobretudo da
possibilidade de fitarmos com amor os olhos de Jesus, sentir sua misericordiosa
luz penetrar a escuridão de nossa alma e, como Pedro, chorarmos amargamente os
nossos pecados.
É nos encontrando com Jesus, é deixando que
ele nos olhe até o fundo de nossa alma, que veja nossos pecados e maldades, nossos
limites, nossos mais íntimos desejos, que poderemos nos purificar.
Jesus, ao
encontrar alguém humilde, que reconhece os próprios pecados, que vê a
necessidade de purificar-se com toda a humildade, entra plenamente em sua vida,
em seu dia a dia, e reconstrói a “casa” dessa pessoa por dentro, e aqui está um
detalhe: não reconstrói uma “outra” casa, mas a mesma de antes, com todas as características
com que a pessoa nasceu, porém livre de todo lixo, repintada, limpa, com tudo
funcionando. Não é preciso, e nem Deus nos pede isso, que mudemos nossas
características. Cada um pode ser santo dentro de sua vocação, caráter, personalidade,
dentro de seu “jeitão”.
O que temos de fazer é sanarmos o que está
errado, extirparmos os vícios e maldades, e só deixar o que agradar a Deus. Aí,
Jesus poderá olhar para nós e ver que também estamos olhando para ele, arrependidos,
dispostos a recomeçar uma nova vida. Isso é difícil, mas não é impossível.
O olhar de Jesus nos faz ver que é possível
viver santamente, e vamos nos sentir impelidos a isso. Mas... será que não é
justamente da conversão, dessa vida nova, que temos medo? Não foi essa a
atitude de Pedro quando disse a Jesus para afastar-se dele por ser um pobre
pecador, no primeiro milagre da pesca?
Vejo Pedro dizendo a Jesus como nós também
às vezes dizemos: “Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador e, se continuar
a olhar-te, vou sentir a profundidade do teu olhar, chamando-me a uma vida mais
santa” O problema é que eu não me sinto disposto a mudar de vida! Estou
acostumado demais às minhas coisas e modo de viver”!
Vejo que está aí o motivo pelo qual muitos
abandonam o apostolado, a própria vocação, a Missa, o Culto (quando evangélico).
Será que não é para fugir de Deus, abafar a voz da própria consciência? Sei que
há casos e casos. Alguns realmente não veem outra alternativa se não deixar
aquele tipo de serviço, são obrigados a mudar de rumo, mas é preciso confiar
sempre na Providência Divina, nesse Deus tão rico em misericórdia, como diz S.
Paulo.
Em Romanos 11,29, São Paulo nos garante que
Deus não se arrepende dos dons e da vocação que nos deu. Vamos, pois, nos
encher de coragem e permitir que Jesus nos olhe profundamente e, como diz o
Apocalipse 3,20, entre em nossa casa e faça a refeição conosco!
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