sábado, 7 de maio de 2016

O OLHAR DE JESUS

- 20/03/16


Hoje é Domingo de Ramos. Na leitura após a procissão, lemos Lucas 22 e 23, a Paixão de Jesus. É impressionante o capítulo 22, vers. 61-62: “E virando-se, Jesus olhou para Pedro. E, saindo Pedro para fora, chorou amargamente.

Quando o pai ou a mãe dão aquele olhar de censura aos filhos, eles sentem medo e até choram por saber se virá ou não um castigo.

Imaginem o olhar que Jesus deu a Pedro, talvez um tanto distante um do outro (seria mais grave se estivessem perto!). O olhar divino-humano de Jesus tem a pureza infinita do paraíso, marca como um raio, tem o efeito do raio “X” em nossa alma.

Há algumas passagens sobre esse olhar penetrante de Jesus: “E passando o olhar em cada um dos que ali estavam...” (Lc 6,10 e 9,47). Jesus lia os pensamentos dos que o circundavam, e seu olhar os deixavam inseguros e sem ação.

Diz Flávio Josefo, historiador pagão do início do cristianismo, que ninguém jamais viu a cor dos olhos de Jesus, pois ninguém conseguiu fita-lo frente a frente. Seu olhar era mais penetrante que um espinho na pele!

Assim ocorreu com Pedro. O olhar que Jesus lhe deu projetou à sua frente não apenas a tripla negação que acabara de fazer, mas também os pecados passados. Que pena Judas não ter tido a mesma reação de Pedro! E talvez Jesus também tivesse olhado para ele, quando disse, em João: “É aquele que pôr comigo a mão no prato”. Será que Judas estava tão faminto que não olhara para Jesus, mas só para o prato? Talvez... e isso lhe custou uma morte indigna, o suicídio.

Em nossa vida também fazemos muito isso. Ficamos tão interessados nos “pratos” que o mundo nos oferece, que não percebemos o olhar que Jesus nos está lançando, não tanto de censura, mas oferecendo-nos o seu amor, o seu perdão e a sua força para vencermos.

A humildade é a base de tudo, sobretudo da possibilidade de fitarmos com amor os olhos de Jesus, sentir sua misericordiosa luz penetrar a escuridão de nossa alma e, como Pedro, chorarmos amargamente os nossos pecados.

É nos encontrando com Jesus, é deixando que ele nos olhe até o fundo de nossa alma, que veja nossos pecados e maldades, nossos limites, nossos mais íntimos desejos, que poderemos nos purificar. 

Jesus, ao encontrar alguém humilde, que reconhece os próprios pecados, que vê a necessidade de purificar-se com toda a humildade, entra plenamente em sua vida, em seu dia a dia, e reconstrói a “casa” dessa pessoa por dentro, e aqui está um detalhe: não reconstrói uma “outra” casa, mas a mesma de antes, com todas as características com que a pessoa nasceu, porém livre de todo lixo, repintada, limpa, com tudo funcionando. Não é preciso, e nem Deus nos pede isso, que mudemos nossas características. Cada um pode ser santo dentro de sua vocação, caráter, personalidade, dentro de seu “jeitão”.

O que temos de fazer é sanarmos o que está errado, extirparmos os vícios e maldades, e só deixar o que agradar a Deus. Aí, Jesus poderá olhar para nós e ver que também estamos olhando para ele, arrependidos, dispostos a recomeçar uma nova vida. Isso é difícil, mas não é impossível.

O olhar de Jesus nos faz ver que é possível viver santamente, e vamos nos sentir impelidos a isso. Mas... será que não é justamente da conversão, dessa vida nova, que temos medo? Não foi essa a atitude de Pedro quando disse a Jesus para afastar-se dele por ser um pobre pecador, no primeiro milagre da pesca?

Vejo Pedro dizendo a Jesus como nós também às vezes dizemos: “Senhor, afasta-te de mim porque sou pecador e, se continuar a olhar-te, vou sentir a profundidade do teu olhar, chamando-me a uma vida mais santa” O problema é que eu não me sinto disposto a mudar de vida! Estou acostumado demais às minhas coisas e modo de viver”!

Vejo que está aí o motivo pelo qual muitos abandonam o apostolado, a própria vocação, a Missa, o Culto (quando evangélico). Será que não é para fugir de Deus, abafar a voz da própria consciência? Sei que há casos e casos. Alguns realmente não veem outra alternativa se não deixar aquele tipo de serviço, são obrigados a mudar de rumo, mas é preciso confiar sempre na Providência Divina, nesse Deus tão rico em misericórdia, como diz S. Paulo.

Em Romanos 11,29, São Paulo nos garante que Deus não se arrepende dos dons e da vocação que nos deu. Vamos, pois, nos encher de coragem e permitir que Jesus nos olhe profundamente e, como diz o Apocalipse 3,20, entre em nossa casa e faça a refeição conosco!

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