sábado, 7 de maio de 2016

RECALQUE, OS POBRES

        

05/03/2016
Eu estou dentro de uma determinada realidade e não adianta negá-la. Seria um desastre para o meu psiquismo. 

Negar a realidade é a maior causa de suicídios, depressão, tristeza, desespero, desistência. É preciso enfrentar a realidade em que vivemos, pois se não fizermos isso, acabaremos recalcando o fato. 

Recalque é algo pernicioso para nossa vida. Recalcar é, por exemplo, o diabético dizer para si mesmo que o bolo que está à sua frente não presta, está mal feito, está ruim. Este recalque vai impulsioná-lo a comer o bolo todo. Não recalcar seria enfrentar a realidade do diabetes e fazer para comer uma gelatina dietética, por exemplo, mesmo assumindo o fato de que o bolo deve estar uma delícia. 

Por que há tantos drogados e alcoólatras? Porque isso lhes dá prazer; para eles, é algo bom. Se não fosse bom, não haveria viciados!

Recalcar é, pois, como afundar uma bola de futebol numa piscina: quanto mais fundo a colocarmos, com mais força ela aflorará.

O primeiro passo para sairmos de uma realidade que não nos agrada é assumirmos e acreditarmos nessa realidade, ou seja, nos conscientizarmos de que ela nos pertence, nós estamos imersos nela.

O segundo passo é verificarmos nossas armas. De que nós dispomos para “sair dessa”? A quem poderemos recorrer? Quais são os caminhos?

O terceiro passo é tentar mudar essa realidade com as armas do segundo passo, ou, se percebermos que a realidade não pode ser vencida ou mudada, adaptarmo-nos a ela de tal forma que ela não mais nos agrida.

É claro que em caso de pecado, nunca poderemos concordar. Daí, como diz Hebreus 12, 4, é preciso lutar até o derramamento de sangue na luta contra o pecado.

Em relação a nós próprios, isso também é verdade: não adianta querer ser o que não somos. Se eu sou assim, assim, assado, não como viver como cozido, cozido, fritado. Se você nunca saiu do Brasil, não vá inventar uma viagem imaginária aos amigos. Eles vão pegar você na mentira!

Muitos viajam e não aproveitam a viagem porque perdem muito tempo e oportunidades de relax ao tirarem fotos de modo desesperado. Se você fizer isso, coloque nelas a frase: “Eis os lugares em que me preocupei tanto em fotografar que não tive oportunidade de conhecê-los.

Outra coisa idiota desse tipo é comer uma comida falando em outra. Você já fez ou viu fazerem isso? Acontece muito! A pessoa está comendo frango frito, mas falando de peru assado. Se está comendo macarrão, fala da famosa lasanha que sua mãe fazia etc. O inteligente procura saborear e curtir aquilo que está comendo no momento! Isso é enfrentar a realidade!

De certa forma, estes textos sobre os meus devaneios são um tipo de fuga da realidade.

Deus nos deu esse dom precioso do paladar. Quantas coisas para comer! Mas... infelizmente, nem todos têm essa possibilidade.

Tive ao mesmo tempo uma paróquia pobre e uma mais rica, em bairros diferentes. Ambas fizeram o Natal dos pobres, mas a chique sofisticou tanto o cardápio que ninguém conseguiu comer: aquilo era estranho para o paladar dos pobres. 

Na paróquia pobre, o almoço foi um sucesso, pois eles fizeram arroz, feijão, carne e salada. Comeram “de lamber os beiços”. Na reunião de avaliação, eu lhes apontei o engano feito. No ano seguinte, a base foi arroz com feijão, bem a gosto do povo, e salada simples, sem nenhuma sofisticação, e o almoço foi um sucesso.

Um casal que tinha um parente padre muito chique, da alta sociedade, convidou-me a jantar em sua casa. Que sofisticação”! Havia prato pra isto, para aquilo, garfo para isto, para aquilo, copos diversos... Eu lhes disse que não saberia como usar os talheres e apetrechos e eles...pediram que eu entrasse na cozinha, comer no panelão! Ficaram felizes e sempre me convidavam. Eu assumi minha realidade de caipirão, que não sabia como usar tantos apetrechos.

Precisamos, pois, enfrentar a realidade, e não inventar uma realidade que não existe. Os pobres vivem uma realidade muito diferente que as dos mais abastados. Vivem em ambientes insalubres, mas isso até os ajuda a ganharem mais anticorpos que seus irmãos mais chiques.

Em suma, não podemos ignorar nossa realidade. Quando saímos dela com ideias estapafúrdias, sonhos impossíveis, apegos ao passado, quando vivemos mais no passado e no futuro que no presente, estamos perdidos. Não teremos passado quando estivermos no futuro! É preciso viver bem o presente, deixar pra lá o passado, que não mais nos pertence, e deixar nas mãos de Deus o futuro, que ainda não chegou. Como dizia Santa Faustina: “Ó tempo presente, só tu me pertences realmente”!

Se cremos em Deus, ficaremos felizes de sempre fazer a sua santa vontade, e tudo o que acontece está sob seu domínio e sua onisciência. Ele sabe tudo e sabe o que será melhor para nós. 

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