sábado, 19 de dezembro de 2015

O BAR-MITZVÁ DE JESUS



O Bar-Mitzvá é uma cerimônia judaica que, de certa forma, corresponde ao nosso Crisma: o adolescente é recebido oficialmente no templo e passa a ser responsável pelo que faz, assumindo a sua participação no Povo de Deus, que fora feita com a circuncisão. 

No nosso caso, essa participação é concretizada pelo batismo e confirmada pela Crisma, aos 14 anos. O Bar-Mitzvá é feito atualmente aos 13 anos. Desse dia em diante, o adolescente podia ler os textos bíblicos no templo e ser ouvido pelos doutores. Antes disso era considerado criança e não tinha valor algum na sociedade judaica. 


Não era ouvido e não podia conversar com as autoridades religiosas: só tinha a oportunidade de aprender em casa e na sinagoga, mas sem dar opinião alguma.

Após uma preparação, são recebidos solenemente no templo e leem um trecho da Torá. Jesus deve também ter cantado um salmo. Deve ter sido maravilhoso o canto que Jesus fez do salmo. Qual salmo terá ele lido? Se fosse o salmo 118(119), teria cantado, com sua voz maravilhosa, pura, cristalina: “Felizes os puros em seu caminho, que caminham na lei do Senhor”. Os anjos, decerto, o acompanharam, emocionados, com o coral celeste.

Em http://colecao.judaismo.tryte.com.br/livro1/l1cap22.php, nós vemos como era o Bar-Mitzvá:

“Um menino que completa o seu décimo-terceiro aniversário é um Bar Mitzvá - literalmente, um homem do dever. Desse dia em diante, conforme a tradição judaica, é ele responsável por seus próprios atos e por todos os deveres religiosos de um homem. No sábado posterior ao décimo-terceiro aniversário de um menino judeu, ele é chamado ao altar da sinagoga para ler a Torá . O jovem repete a bênção, depois que um trecho da Torá é lido, e recita a lição dos Profetas, denominada Haftará”.


“A palavra Torá tem dois sentidos na tradição judaica. No sentido lato, é a Torá o nosso modo de viver, ou, conforme disse Milton Steinberg, “Toda a vastidão e variedade da tradição judaica”. É sinônimo de ciência, sabedoria, amor a Deus. Sem ela, a vida não tem sentido nem valor.”


“Em senso mais estrito, a Torá é o mais reverenciado e sagrado objeto do ritual judaico, o belo rolo manuscrito dos Cinco Livros de Moisés (a Bíblia, do Gênesis até o Deuteronômio) que se conserva na Arca da Sinagoga. Uma parte da Torá, iniciando-se com o livro do Gênesis, é lida em voz alta todo sábado durante o culto, logo a partir dos Grandes Dias Santos, prosseguindo até o fim do ano judaico, até que tenha sido lida. 


O fiel mantém-se de pé quando a Torá é retirada da Arca. Um judeu piedoso beija a Torá colocando seu xale de orações sobre o pergaminho (assim os dedos não tocam o rolo) e erguendo então aos lábios as franjas do xale.”

Agora, em modo de ficção, eu imagino como teria sido o Bar-Mitzvá de Jesus:

Na ala das mulheres, Maria chorava de emoção. José, na ala dos homens, não chorava, para não escandalizar os demais, mas também estava emocionado. A emoção que se irradiou pelo templo não era deste mundo. Suplantava a tudo o que tinham visto até então. Aquele canto, aquele instante, nunca mais iriam se repetir naquele templo. Dificilmente alguém conseguiria superá-lo.


A cerimônia havia sido realizada em Jerusalém. Quando terminou, houve uma festa, após a qual todos voltaram para casa. A caravana de Nazaré não era muito grande, mas os pais de Jesus estavam acostumados que ele ficasse com outras famílias, e não deram falta dele. Os homens caminhavam separadamente das mulheres. Maria pensava talvez que ele estivesse com José, e vice-versa. Em sua idade, Jesus ainda podia escolher ficar com o pai ou com a mãe.

Jesus ficara em Jerusalém, conversando com os doutores do templo, já durante a festa, de modo que ninguém dera falta dele. Era a sua primeira oportunidade de fazer isso e não ia deixar passar em branco. Antes do Bar-Mitzvá isso não lhe era permitido, como já disse acima. 


As crianças são contadas como nada entre os judeus. Aliás, isso foi uma das coisas que escandalizaram os judeus na pessoa de Jesus, quando ele abraçava as crianças e lhes ouvia. Isso era impensável para um mestre, como Jesus era considerado.

Todos os que estavam na Sinagoga se haviam impressionado com o canto que Jesus fizera dos primeiros versículos do salmo e ficaram felizes de tê-lo ali com eles. Ele e os demais que ficaram, os que frequentavam a escola do templo, dormiram num local reservado para os alunos e logo de manhã já estavam com os doutores da lei. Jesus ouvia tudo com atenção, mas suas perguntas mais pareciam respostas dando soluções a todo aquele emaranhado de 613 leis que eram obrigados a seguir.

O tempo passou rápido e no terceiro dia a aula foi interrompida pelos pais de Jesus, que pediram para falar com ele. Sua mãe o abraçou, chorando, e disse:

“Filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu te procurávamos cheios de aflição!”


A resposta dada por Jesus não foi entendida nem pelos pais nem por ninguém:


“Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me nas coisas de meu Pai?”


“Nas coisas de meu Pai”. Que pai? - perguntavam-se os que ali estavam. José estava ali mesmo! Era marceneiro e carpinteiro! Mas não perceberam que Jesus cuidava, sim, das coisas de seu Pai querido do Céu, Pai esse que com todo o poder que tem, não o livrou da morte de Cruz. Fazer isso seria truncar e negar a nossa salvação... Por isso, não interferia. E Jesus voltou com os pais para Nazaré e, nas orações que fez durante a caminhada, percebeu que deveria por enquanto submeter-se plenamente a José e Maria. Foi o que fez. Quanto a José e Maria, conservavam e meditavam tudo isso em seus corações.

Deus não interfere em nossas vidas se não lhe dermos abertura. Diz o missal comentando isso, que deve haver pelo menos um pequeno “orifício” em nosso coração para que Deus possa agir. Ele respeita a nossa liberdade como ninguém mais. Quando lhe damos abertura, recebemos inúmeras graças para levar nossa vida de modo menos sufocante, até que possamos ser atendidos de modo mais pleno e gratificante.


Jesus é 100% homem e 100% Deus, mas como homem precisou aprender tudo como nós. Ele não “ensinava” aos doutores, como muitos dizem, mas os ouvia e perguntava coisas a eles, querendo assim aprender tudo o que pudesse.

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