12/11/15
Eliab e Medrad eram ladrões
convictos. Viviam no tempo em que Jesus pregava o Evangelho, e frequentavam
algumas das cidades em que Ele passava, quando queriam roubar. A multidão que
se apinhava em volta dele era grande, mais fácil de ser roubada.
Eram banidos da sociedade
de então, tidos como impuros e impossibilitados “juridicamente” de frequentar o
templo. Não oravam nem seguiam a lei de Moisés.
Às vezes conversavam
sobre Jesus, quando o assunto era “qual é o tipo de pessoas com quem vivemos”.
Chateavam e debochavam da fé de seus contemporâneos, e roubavam a mais não
poderem.
Certo dia conversavam
sobre Jesus:
-Eliab, eu ouvi dizer que
esse tal de Jesus chegou a ressuscitar o filho de uma viúva, lá em Nain, e o
Lázaro, seu amigo!
-Mentira pura, Medrad!
Foi pura combinação! Esse homem e alguns de seus comparsas que o seguem a toda
parte, estão mais ricos do que nós!
-Mas há um comentário que
ele também cura doentes! Até leprosos!
-Ora, Medrad! Vá
perguntar a alguns desses “doentes” quanto ele ganhou para se fazer de doente!
E assim negavam tudo o
que ouviam dizer sobre Jesus, como ainda hoje muitas pessoas o fazem.
Medrad sentia um desejo
íntimo de conhecer Jesus de perto, esse homem tão famoso. Eliab pensava diferente:
queria mesmo era roubar a sacola de
dinheiro, que soube ser guardada por um tal Judas Iscariotes. Ele achava mesmo
que corria muito dinheiro nesse grupinho a que chamava de “fanáticos”.
Certo dia, estando eles
na Samaria, roubando os coitados daquela terra, que também não acreditavam em
algumas coisas que os judeus acreditavam, e até nem frequentavam o templo de
Jerusalém, souberam que Jesus estava por lá. Uma mulher samaritana, muito
conhecida na região pela facilidade com que conseguia maridos, havia se
encontrado com Jesus no poço da cidade e voltara esbaforida, correndo, dizendo
que o homem era um profeta a adivinhara toda sua vida. Dissera que talvez Jesus
ficasse por ali alguns dias (Confira no evangelho de João capítulo 4).
-Medrad, vou roubar esse
grupo de fanáticos! (disse Eliab).
-Eliab, não faça isso! E
se o homem for mesmo o Messias, estamos fritos, e sem azeite!
-De qualquer jeito vamos
mesmo ser assados no fogo do inferno!
Um de seus colegas de
roubo, que estava com eles naquela noite fria, ao lado de uma fogueira,
perguntou-lhes, enquanto comiam pão e bebiam vinho:
- Até hoje ninguém falou
sobre a cor de seus olhos!
-Do que você está
falando? (Disse Medrad).
- É, a cor dos olhos
desse tal Jesus. Dizem que ninguém sabe!
-São castanhos, (disse
Eliab). Aposto vinte moedas!
Medrad não quis ficar por
baixo e disse:
-Feito! Aposto que são
pretos!
Feita a aposta, foram
dormir em suas tendas, como era muito comum na época, até a manhã seguinte.
Logo de manhãzinha foram
aonde Jesus estava acampado com os Apóstolos e não o encontraram. Chegaram
perto de Judas Iscariotes, que ainda dormia, com a bolsa ao lado, e a pegaram.
Já a uma certa distância do acampamento, abriram a bolsa: estava vazia. Eliab
queria morrer de raiva. Ficou irritado e decepcionado. Nem um só tostão!
Voltou ao acampamento,
então, e procurou outros bens para roubar, mas não encontrou nada. Souberam,
mais tarde, que até as tendas que usavam tinham sido emprestadas pelos
moradores do local, ávidos de ver Jesus e o ouvirem.
Aos poucos as pessoas
foram chegando para ouvir Jesus, até que ele chegou de um local um pouco
afastado, onde estivera em oração, como sempre fazia. Os apóstolos acordaram e
comeram um pouco de frutas secas, ofertadas pelos moradores, além de pão e
coalhada. No dia anterior haviam comprado víveres, mas já os haviam consumido.
Jesus colocou-se num
local um pouco mais alto e começou a ensiná-los. Entre outras coisas, falava
sobre o perdão e o fato de precisarem adorar a Deus não tanto no templo ou no
monte Garizim, mas em espírito e verdade, pois Deus está em todos os lugares e é
adorado e glorificado por uma vida santa.
Eliab e Medrad estavam
ali e procuraram se aproximar mais, a fim de verem a cor de seus olhos.
A dado momento, Jesus fez
uma pausa na pregação e curou alguns doentes. Quando a movimentação de pessoas
havia acalmada, Jesus sentou-se novamente onde estivera até então, e chamou os
dois amigos e lhes disse:
-Eliab, Medrad, se
aproximem!
Eles, tremendo de medo,
pois acharam que tinham sido descobertos em seus roubos e seriam apedrejados,
se achegaram a ele. Jesus fez-lhes sinal e eles sentaram-se à sua frente.
- Que queres de nós?
Jesus lhes disse:
-Podem ver qual é a cor
de meus olhos! Não é isso que vocês vieram fazer aqui?
Eles tremeram! Como
poderia Jesus ter sabido da aposta?
- Eliab, Medrad, por que
vocês não abandonam a vida que levam e se apoderam do que eu tenho de melhor, o
Reino de Deus?
Eles tinham estado com os
olhos no chão. Medrad, mais corajoso e desejoso de olhar para aquele homem que
exercia uma força invisível e irresistível, levantou os olhos e fitou Jesus.
Quando fez isso, foi invadido por uma luz misteriosa e profunda, que saía dos
olhos do Mestre. Era uma luz invisível, de pureza infinita, de santidade nunca
antes vista. Era a irradiação da luz de Deus, ou pelo menos, uma parte infinitesimal
dela. Entretanto, não conseguiu conservar seus olhos nos dele, pois aquela luz
denunciou a ele mesmo toda a sujeira e escuridão que havia em sua alma
pecadora. Sentiu-se sujo, imundo, impuro, e o mais sórdido dos mortais.
Aquela luz invisível e
irradiante lhe deu uma paz indizível e inefável, que nunca antes sentira. Ele
esqueceu-se da aposta, da vida, dos roubos, dele mesmo, de tudo. Queria apenas
estar ali, à frente daquele homem, como a árvore que quer estar perto de um
riacho para manter sempre suas folhas verdes e seus frutos doces.
Debruçou-se no chão, em
frente dele, e implorou:
-Jesus, tem piedade de
mim, pobre pecador!
Jesus pôs uma das mãos
sobre a sua cabeça e disse:
-Medrad, teus pecados
estão perdoados! Vá e não peques mais!
Medrad levantou-se e
sentou-se no meio do povo para continuar ouvindo-o. Eliab sentiu que perdera um
colega de roubo, mas ainda pensava na decepção de não ter encontrado com eles
nenhum tipo de riqueza ou de bens materiais. Desistiu da aposta e de ver a cor
de seus olhos e percebeu a sinceridade com que Jesus falava. Aos poucos sua
vida também foi mudando, mas muito devagar.
Após a ressurreição de
Jesus aceitou o batismo e passou a seguir o cristianismo, como Medrad fizera, a
partir daquele inefável encontro com o Senhor.
Um historiador do tempo
de Jesus, pagão, disse que ninguém conseguiu jamais fixar os olhos nos olhos de
Jesus. Ninguém soube a cor de seus olhos. A irradiação de sua santidade e
pureza era muito forte para ser encarada por quem ainda estivesse no pecado.
A minha opinião é que
apenas Maria soube a cor de seus olhos!
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