11/11/15
Tudo estava sendo
preparado para o dia de Natal, naquele dia 24 de dezembro. Dona Luíza,
atarefada, não dava conta de ralhar com Ricardo, 10 anos, e Mafalda, 8 anos,
seus filhos, que brincavam no quintal.
O Sr. Luís, trabalhador
como era, chegou às 16 hs, cansado, deu um beijo na esposa, tomou um banho e
pediu-lhe a lista de presentes que o “Papai Noel” iria trazer para os filhos.
Ele ia justamente buscá-los numa loja que de antemão lhos reservara: um ônibus
para Luís (de brinquedo, é claro), e uma boneca para Mafalda. É o que eles
haviam pedido. Na lista constava também dois “papais-noéis” de chocolate,
bombons, castanhas, frutas cristalizadas.
As horas se passaram. As
crianças foram dormir, exaustas, após o banho, e uma pequena ceia improvisada
de Natal. Dona Luiza tinha conseguido preparar quase tudo para o dia seguinte.
O sr. Luís não apareceu.
Dona Luiza não sabia a quem recorrer. Pediu ao vizinho, o Roberto, um rapaz
muito gentil, que a levasse a alguns pontos em que talvez o esposo estivesse. As
lojas fechavam à meia-noite e ela ainda conseguiu falar com a vendedora que
reservara os presentes: “Seu marido veio pegar a encomenda às 20 horas, Dona
Luiza!”
A mulher, chorando, foi
ao hospital: não estava lá. Passou pela delegacia. Também lá de nada sabiam.
Passou por alguns bares: não o encontrou.
O almoço foi choroso e
triste. Só as crianças comeram. Dona Luiza perdera a fome, que só começou a
voltar dias depois, quando o fato se minimizara.
As crianças não entendiam
o sumiço do pai. Mas... quem entenderia?
A vida continuou. Os
filhos cresceram, estudaram, ficaram adultos. Ricardo estava se formando médico
e Mafalda, dentista. Haviam conseguido uma bolsa de estudos integral da firma
em que o pai trabalhara. Ele fora declarado morto. O FGTS dele também ajudou
muito na vida deles, desde aquele fatídico dia.
Noite de Natal, 12 anos
após aquele último Natal juntos. A mãe, já com seus 42 anos, Ricardo, já com
22, e Mafalda, 20 anos. Fizeram juntos uma oração e lembraram-se do pai. Que
falta ele lhes fizera! Como teria morrido? Onde fora enterrado?
Por uns momentos ficaram
comovidos, mas deixaram um pouco suas mágoas e comentaram a festa de formatura,
que iria ser conjunta, ou seja, os novos médicos com os novos dentistas, no dia
27, que era um sábado. Como gostariam que o Luís estivesse presente! Era o
sonho dele ver os filhos formados!
Era quase meia-noite.
Alguém tentou abrir a porta e conseguiu, pois estava apenas na maçaneta. Era o
Sr. Luís, com uma sacola grande apoiada no ombro direito.
-Tudo bem, querida? Começaram
a ceia sem mim? (disse-lhes ele)
Olhou aquele casal de
jovens e perguntou:
- Onde estão as crianças?
Eles se entreolharam
espantados. D. Luiza deixou cair o garfo sobre o prato, estarrecida, tremendo.
O casal de irmãos ficaram sem palavras, de bocas abertas. Luís, então, tirou da
sacola o ônibus de brinquedo, a boneca, as castanhas, as frutas cristalizadas,
e os dois “papais-noéis” de chocolate, e os colocou sobre o sofá da sala de visitas.
As lágrimas foram as únicas testemunhas da emoção que os três estavam sentindo
ao ver o Sr. Luís vivo, embora não estivessem entendendo nada!
Abraçaram-no, soluçando,
mas o pobre homem não entendera o porquê daquela acolhida tão efusiva, nem quem
eram aqueles dois jovens que o abraçavam com tanto amor e intimidade. Onde
estariam Ricardo e Mafalda?- Pensava ele. Mas... aqueles dois eram tão
parecidos com ele!
Foi um Natal maravilhoso.
A formatura de ambos também foram regadas com lágrimas de alegria. O Sr. Luís,
já inteirado da situação, sorria, satisfeito, e já refizera o documento de que
estava vivo.
E aqui termina nossa
história. Se você que me lê está curioso em saber onde ficou esse homem durante
12 anos, somos dois! Porque eu não tenho a mínima ideia!
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