ESPERANÇA
27/11/2011
G-09
A esperança da alegria
Agoniza no peito daquele velho poeta.
As garras da tristeza
Se aninham em sua alma,
desfolhando as flores,
suprimindo os amores,
desbotando as cores,
falseando as rimas.
Seu destino lentamente muda o rumo,
Seu equilíbrio sai do prumo,
Sua dor o atormenta.
São os últimos lampejos de uma vela bruxuleante
Que o vento da amargura
Insiste em apagar.
São os uivos inaudíveis
De um cão mudo,
Os alertas impensáveis de uma sentinela cega.
Ninguém ouve,
Ninguém vê,
Ninguém se importa.
A rima lhe bate à porta,
Tentando ajudá-lo:
“Amar!” - ela lhe diz,
Mas ele se põe a chorar.
“Lutar!” - ela insiste,
Mas a inércia o impede de andar
E o seu corpo desiste.
Já prostrado no caminho,
uma simples formiguinha
lhe mostra seu trabalho.
Arcada com uma folha,
Luta contra o peso,
Luta contra o vento,
Descontrola-se no caminho.
Uma outra formiguinha
Encontra-se à sua frente,
Antena-se com ela
E voltam à fileira.
Ela venceu!
A formiguinha lutou!
A formiguinha “se antenou”
E a folhinha levou.
A esperança da alegria
Fortifica-se no peito do poeta.
Os suaves dedos da paz
Se aninham em sua alma,
Replantando as flores,
Refazendo os amores,
Colorindo as cores,
Refazendo as rimas
Sua dor se esvai,
sua angústia sai,
seu amor retorna.
Ele sente em sua alma,
Não mais triste,
Renascer a esperança.
CALAFRIOS
11/12/2011
G-14
Calafrios o envolvem,
o estômago se enjoa,
o coração palpita,
suor abundante,
a cabeça gira.
Os olhos se embaçam,
a vidraça sai de foco,
as pernas bambeiam,
não consegue caminhar.
É como um tufão que o arrasa,
um terremoto que passa.
Mitsunami que estraçalha,
vulcão em erupção,
A angústia o esmaga.
Ajoelhou-se. Rezou.
Lembrou-se, Senhor, de vossa agonia,
do suor de sangue,
e se acalmou.
Vossa luz o inundou.
Os laços desfeitos,
novamente se ligaram.
Tudo se acalma.
O pulso volta ao normal,
a vidraça à nitidez,
as pernas se afirmam,
o sorriso aparece,
e enfrenta, feliz,
o seu caminho
A BRASA: AINDA RESTA UMA ESPERANÇA
(Título original: A BRASA.)
11/12/2011
G-16
As pedras do caminho
Já não ferem os pés do peregrino.
Os espinhos das flores
já não lhe ferem as mãos.
As angústias vividas,
os prantos chorados,
limparam seus olhos,
aguçaram sua mente,
já não sofre mais.
Gritos e sussurros,
carícias e murros,
calma e rapidez,
calor e frio,
pernilongos e suores noturnos,
tudo isso o calejou.
Ele é como zumbi a caminhar,
um leão narcotizado,
um urso hibernando,
uma águia empalhada,
já não sofre mais.
As cores do seu arco-íris desbotaram,
seu violão se calou,
seu piano criou cupim,
sua flauta enferrujou.
Sobraram algumas cinzas,
que se espalharam com o vento,
e ainda pôde ver, aliviado,
que lhe sobrou uma brasa
ainda viva em seu peito,
e ele voltou a caminhar.
e ele voltou a caminhar.
MUITO ALÉM DO HORIZONTE
(12/02/2012)
G-18
O homem, já maduro, está chegando.
seu horizonte se aproxima.
O caminho está terminando.
As cores, se esmaecendo.
Seus cabelos, rarefeitos.
Sua boca, várias próteses.
A pele amassada,
inchada,
enrugada,
com pintas da velhice.
A música já não o comove.
O ocaso já não o atrai.
O riso já não o faz rir.
As ausências... ele já não se toca..
Seus olhos... como falham!
Os sofrimentos que o aprisionam... não mais o aprisionam tanto.
Os amigos... diminuíram.
Os inimigos... ele os ignora.
As ambições... se enferrujaram.
Seu time predileto...
... Ele tinha um time predileto? Não me lembro!
Hoje (12/02/12) a Whitney Houston morreu!
Mas... quem era mesmo essa cantora?
Seu horizonte se aproxima.
A vida eterna está chegando para ele.
Aguarda esse sublime instante,
Esse bendito horizonte,
Essa viagem de encontro com o Cordeiro Imolado,
Esse ponto de núpcias entre os dois horizontes,
para ser realmente feliz,
para ver muito além deste seu pobre horizonte,
para vislumbrar maravilhas que nem a bíblia,
nem mesmo Jesus conseguiram definir com exatidão:
elas vão muito além de qualquer palavra humana ou divina.
A única imagem que aparece, é a que,
além deste horizonte,
brilha não mais este sol que nos queima agora,
mas a infinita Luz de Deus! (Apoc. 22,4-5).
...E A VELHICE CHEGOU!
30/09/2012
G-393
Rugas...
cabelos brancos e poucos,
músculos preguiçosos e fracos.
O passado já distante,
Rabecão já no horizonte...
O que resta fazer?
Amigos antigos?
já são nomes de ruas.
Amigos novos?
São raros, e nada a partilhar.
A experiência florida,
enriquecida,
porém...estagnada,
arquivada.
Que fazer com ela?
Aplicá-la?
Em quê?
Onde?
Como?
É...
A velhice chegou!
O tempo parou!
Tudo mais difícil,
tudo mais alto,
tudo mais pesado,
tudo se complica,
nada mais atiça,
o mundo foge,
a esperança se finda,
o calendário espicha,
a sociedade parece fútil,
tudo parece inútil,
a música desafina,
as cores desbotam,
as flores murcham,
tudo se acalma,
o tempo final,
a experiência é total,
mas...
quem se importa?
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