AS MUSAS SE CALARAM
23/12/2019
G-372
Neste meu ocaso
as musas se calaram,
as lágrimas secaram,
as ilusões partiram.
Esta solidão,
a mim tão deliciosa,
prenúncio da partida,
prepara-me o coração,
me intima às despedidas.
Os desejos se arrefeceram,
as expectativas quase zero,
não me sinto necessário,
as ambições desapareceram.
Minha tão amada velhice,
pouco vai durar, talvez...
Mas a vivo com agradável “mesmice”
dia a dia, mês por mês.
As poesias não mais me atraem,
as musas me abandonaram!
Não sinto mais euforia,
as palavras se enferrujaram...
Sinto a falta de muitos amigos,
que este mundo deixaram...
Quase lhes peço desculpas
por ainda estar aqui!
Com muito esforço e apatia
termino esta poesia
Que de poesia não tem nada,
talvez seja uma prosa rimada...
AVALANCHE
20/07/2020
G-374
O coronavírus
desatou a ribanceira
e uma avalanche de ideias
envolveu minha cabeceira...
Noites de insônia,
mortes sem sentido,
vidas sem garantia,
sobrevidas sem lógica.
Parece que o mundo,
esse mundo em que vivo,
desabou,
ruiu,
enlouqueceu!
O relógio de minha velhice
disparou.
Meus dias se tornam horas,
minhas horas se tornam minutos,
tudo acelerou.
Imerso nas incertezas
faço o meu testamento,
e peço a Deus que me ouça
e receba, pacientemente,
este meu triste lamento...
SOMBRAS
06/06/2021
G -379
As sombras do passado
tão densas e escuras
se desvaneceram.
A luz voltou a brilhar,
as estrelas apareceram,
o sol tornou-se mais forte,
a vida afastou a morte,
tudo mudou.
Jesus está sorrindo,
a vida vai se abrindo
a um colorido porvir.
As cores da alegria,
o sorriso de Maria
aparecem em cada semblante.
Coisa semelhante
vejo na economia,
no fim da guerra fria,
todos se irmanaram.
Oriente Médio sem guerras,
florestas se reflorestaram,
Saara abriu-se em flores.
Rios secos se inundaram,
caudalosos e piscosos,
nada como dantes.
Findou-se a pandemia,
todos chegam aos 100,
tudo se rejuvenesceu.
Os países se coligaram,
todos ajudam a todos,
ninguém mais é pobre,
ninguém mais no abismo.
Do mais humilde ao mais nobre,
não há mais egoísmo.
Um som estridente e enfadonho...
sento-me na cama.
Acordei do meu sonho!
VIVI O QUE VIVI
06/07/2022
G-381
O tempo passou,
os cabelos embranqueceram,
a juventude terminou,
os músculos enrijeceram...
Antigos colegas sumiram,
muitos já partiram.
O passado
não há com quem comentar,
não há com quem chorar,
não há com quem sorrir,
é triste vê-los partir!
Fatos passados, que saudade!
Não tinha respostas, agora eu tenho!
Mas, sem tê-las para quem contar,
eu me abstenho!
Mesmo que pudesse,
não gostaria de voltar no tempo.
Se alguma mudança houvesse
que impedisse meus contratempos,
talvez também impedisse, decerto,
as pérolas que consegui
nos oásis do meu deserto...
Vivi o que vivi,
sofri o que sofri,
chorei o que chorei,
preguei o que preguei,
deixei o que deixei,
ganhei o que ganhei,
Mas muitíssimo eu cresci.
Coisas bonitas ocorreram,
muitos se converteram,
foi um tempo maravilhoso.
O tempo passou...
só restou a saudade...
a juventude terminou...
Meus amigos, lá do céu,
me acenam com a eterna felicidade...
(Teófilo Aparecido de Jesus.)
O ESPELHO
22/07/2022
G-382
O espelho me mostra
uma face que não conheço,
uma face sem apreço,
nunca antes imaginada.
O espelho me mostra
que o tempo já passou,
que a carinha bonita se apagou,
ilusão desmistificada.
O espelho me mostra
uma pessoa estranha,
minha decepção é tamanha,
conclusão nunca pensada.
O espelho me mostra
as ilusões perdidas,
restaram-me as feridas,
mas todas cicatrizadas.
O espelho me mostra
do meu ser a versão externa,
diferente da face interna,
que ainda é jovem, ainda não transformada.
O espelho me mostra
que a felicidade já está perto,
alguns anos mais, decerto,
para o fim da caminhada.
O espelho me mostra
do idoso o sorriso,
o perfume do paraíso,
e a dicotomia superada.
O espelho, enfim, me mostra
que para amar a Jesus,
que por nós morreu na cruz,
que para a todos amar,
que a todos saber perdoar,
com todos saber conviver, ter paciência,
por toda a existência,
é preciso praticar
com a pessoa do espelho,
que vejo sorrindo.
SONETO DOS DESENGANOS
1980 OU 1981
G-402
Sinto passarem-me os ternos anos,
frágeis carícias que a vida me deu.
Sinto me pesarem os desenganos,
triste lembrança que o tempo perdeu.
São como as nuvens, que passam e passam,
e como sonhos, se quebram no além,
são como pedras jogadas no espaço,
que sempre caem na própria cabeça!"
Um breve sorriso, um instante que passa,
uma dor, uma flor, um adeus. Ah!
Se eu pudesse dizer um simples "Bah"!
Recomeçando outra vez minha vida,
seria um amor, seria outra flor,
seria uma canção para meu Deus!
TRISTEZA
09.03.2025
G-408
(https://youtu.be/ikBD3DcSGFM)
“Tristesse” para Chopin,
Tristeza para mim,
diante da vida que se esvai aos oitenta...
Amigos?
Muitos já se foram,
deixaram-me falando sozinho,
levaram as rosas, deixaram-me os espinhos,
deixaram lembranças únicas e de certa forma impartilháveis.
Quem se interessa?
Quem quer saber que naquele riacho,
agora tão poluído,
a gente nadava?
Quem quer saber que brincávamos na rua,
terra batida,
de “pais”, de “piques”, de “unha-na-mula”?
A Marilena cantando e dançando,
no meio da rua,
o “Ai Lili ai lô”?
“Eu passo a vida cantando,
ai Lili, ai lili ai lô!
Por isso sempre contente estou,
o que passou, passou!
O mundo gira depressa,
e a cada volta eu vou
cantando a canção tão feliz, que diz:
“Ai Lili, ai Lili, ai Lô!”
Por isso é que sempre contente estou!
Ai Lili, ai Lili, ai lô!”
Quantas despedidas!
Quantas partidas!
Quão poucas visitas!
O cemitério de minha cidadezinha
mais parece um museu.
Ali recordo coisas do passado,
coisas bonitas e às vezes tristes,
ao ver os “stands” dos que já foram,
stands esses que são chamados de túmulos.
É uma exposição de pessoas que se foram,
de projetos que se realizaram,
de projetos que falharam,
de lágrimas,
sorrisos,
festas,
comemorações,
coisas do passado.
Ali é o “stand” do seu Dito Lixeiro,
que tinha um burro chamado “Macaco”,
que dava a pata a quem pedisse.
As crianças rodeavam a carroça de lixo,
tocavam o sininho de lata,
eram abraçados por esse grande homem Seu Dito.
Ali é o “stand” do padre do Hospital,
que visitava os doentes com tanto amor!
Ali é o “stand” da dona Rosa,
sempre vestida de preto,
hospedava os padres,
solteira e feliz,
sempre dizendo:
”eu sou nota nove, noves fora nada”!
Ali é o “stand” de dona Ermínia,
fornecia marmitas,
morreu na enchente.
Ali é o “stand” do Ataíde Júlio,
compositor exímio,
cantado até pelo RC.
“Eu te espero de braços abertos,
de olhos vermelhos de tanto chorar!
Eu te espero, morrendo de tédio,
sentindo a saudade a me sufocar… “
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