quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

POESIAS - ESPERANÇA, ENVELHECIMENTO 02

 

A FLOR DAQUELE VASO

    07/10/2012     

G-396

Todos se foram,

a música acabou,

as flores murcharam,

o leite azedou,

o pássaro da gaiola morreu de fome,

o gato “se mandou”,

o angu de camarão se embolorou no fogão,

o pó invadiu o chão,

a geladeira estufou de gelo,

a maçã nela se empedrou,

a cerveja trincou,

o refrigerante virou sorvete,

as aranhas dominam os cantos das paredes,

os ácaros reinam,

o telefone não é atendido:

Meu amigo se foi!

Meu amigo morreu!

A memória de sua vida

aos poucos definhou,

ninguém mais o conhece,

ninguém mais o enaltece,

seu túmulo foi abandonado,

rachou.

Distante dali um botão num vaso,

se abriu,

floresceu,

e tinha seu nome,

e tinha sua marca,

passageiro da mesma barca,

fruto de sua vida.

Ali sua vida continuou,

sua mensagem se desenvolveu,

sua memória resistiu:

lampejos de beleza,

maravilhas da natureza,

lembranças enjauladas,

num grito de amor,

num lance de dor,

da saudade contida.

Lágrimas turvas de alguém que o chora,

que a separação deplora,

que o pranto ameniza.

Lembranças de uma vida bela,

de uma estrada singela,

de uma gratidão enclausurada!

Tudo passou,

a música recomeçou,

o leite está fresco,

o pássaro canta na gaiola,

o gato voltou,

o chão está limpo,

a geladeira foi descongelada,

outras cervejas compradas,

as aranhas não mais existem,

o telefone é atendido,

mas meu amigo...

...continua esquecido.

Outro ocupa seu lugar,

e sua lembrança só ocupa um coração:

o dono daquele botão no vaso,

daquele lugar distante,

seu amado filho.

 

O TEMPO FUGIU

 (27/04/13)

G-36

Tudo se passou tão repente,

como um violento tufão,

como as nuvens passageiras,

como as aves migrantes,

como as batidas do meu coração!

 

Quimeras e saudade,

quietude e ansiedade,

foi só o que sobrou...

Reluto contra o tempo,

tiro a pilha do relógio,

mas as rugas insistem!

O tempo fugiu,

partiu,

se escafedeu,

não volta mais!

EU TENHO QUE CHEGAR!

(27/04/13)

G-37

Mais uma noite findou,

mais um dia começou,

a esperança reapareceu.

Tiro as botas do armário,

trato do meu canário,

corto a grama que cresceu!

 

Limpo as mágoas do coração,

enxugo as lágrimas do chão,

recomeço a caminhada.

 

O caminho é muito longo,

escarpado e pedregoso,

e eu tenho que chegar!

 

O PASSADO -

 08/06/2013

G-41

O passado passou...

a esperança chegou...

o dia acabou...

resta-me atravessar a noite,

que outro dia vai!

Sob as cinzas que sobraram

do meu passado,

vejo ainda algumas brasas acesas,

brasas vivas,

brasas de amor profundo,

páginas inefáveis que outrora escrevi!

 

São frestas

no telhado desta longa noite de minha vida,

que, com a luz do sol,

a iluminam em parte.

Ainda restam as telhas!

Vou quebrá-las,

destruí-las,

e o sol me atingirá totalmente,

e a noite desaparecerá.

 

Vida nova,

sangue renovado,

esperança resgatada,

lembranças acomodadas numa caixa de sapato,

aurora polar que começa,

flores que renascem,

cores que se definem,

primavera perene de luz,

de amor eterno.

 

"Deixando as coisas que passam,

abraçarei as que não passam", (Fil 3,13-14)

e, entre as coisas que passam,

abraçarei as que me podem levar

a um futuro feliz!

 

O INCENSO

- 24/08/13

G-47

O incenso queimado subiu,

fumaça perfumada,

leve,

agradável a Deus!

Minhas preces,

vindas do coração,

também subiram,

esperando serem ouvidas.

Gratidão...

Esperança...

Quantas coisas para agradecer!

Quantas graças recebidas!

Quantas lágrimas esquecidas!

Quanto amor envolvido!

Palavras não são necessárias,

discursos aqui

não têm nenhum valor para os que amam!

Só este incenso,

perfumoso,

sublime,

apenas esta pequena fumaça

é o bastante

para mostrar o que sinto.

Sois Santo, Senhor Deus,

Sois todo amor e bondade!

Sois tudo do que necessitamos!

Sois a mais suprema verdade!

Aceitai este incenso,

aceitai-nos no paraíso!

 

O TEMPERO

 SET. 2013

G-50

Como tempero

uso as cinzas do passado;

amizades que se foram,

ingredientes assimilados;

cinzas de verão,

cinzas de inverno,

provindas do coração,

provindas do acaso,

apimentadas ou não,

de vitórias ou de fracassos,

sementes consumadas

de saudades, felicidades,

desilusões.

As cinzas que hoje vou deixar,

não sei de que "naipe" serão:

Provindas do inverno?

Provindas do verão?

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