sexta-feira, 30 de agosto de 2013

POESIAS - SAUDADE, SOLIDÃO, SILÊNCIO 09

 

MADAME SOLIDÃO

(01/01/2028)

A-360

A solidão deprime,

reprime a Consolação...

A solidão devassa,

arrasa o coração...

 

Com Jesus na cruz,

com Pedro em seu pecado,

com o rico traído,

com o menor abandonado...

 

Nos hospitais é a grande dama,

reina em toda cama!

Nos asilos, no envelhecimento,

ela ataca a todo momento.

 

Na mesa do bar

aperitivo principal,

escurece todo horizonte,

sangra o melhor jornal.

 

As músicas ela entristece,

não suporta o “allegro”,

só aceita a “Tristesse”,

ou de Albinoni o “Adágio”.

 

Ó solidão, minha amiga!

Não se faça de rogada!

Se não fosse sua cantiga,

Eu não escreveria nada!



OÁSIS

12/03/2018

A-361

O caminho é de pedras

que ferem os meus pés.

O horizonte é sombrio,

esconde a esperança!

 

O sol, escondido,

recusa-se a me aquecer.

O frio de minha alma

congela-me o coração.

 

Nada à vista,

nenhum pássaro,

nenhuma flor,

nenhuma árvore.

 

O único Oásis

que vejo possível

é teus braços,

que me amam,

que me confortam!



O MUNDO QUE VEJO

03/05/2018

A-362

No inverno, alegrias rarefeitas...

No verão, tristezas imensas...

Nada mais me alegra!

 

O mundo vomita cicuta,

a política se disputa,

mas você pode escolher o seu gênero...

 

Nada mais é preciso,

tudo se torna indeciso,

não sei se estou no verão ou no inverno!

 

Lembro o colo materno,

a segurança ingênua,

a bondade particularizada!

 

Os corações se esclerosaram,

as compras se endeusaram,

abundou-se a tristeza!

 

Muitos comem enfastiados,

outros lutam desgraçados,

não conseguem pão na mesa...

 

Aparições de Maria,

acabou-se a guerra fria,

previsões de holocaustos...

 

Enquanto isso, no notebook,

sentado numa cadeira,

eu simplesmente escrevo,

ao lado de um copo de uísque...



O RECADO

22/05/2018

A-363

A luz do sol

violenta aquela sala,

se reflete num copo vazio de uísque,

esquecido no tapete,

e repousa sobre um jovem,

adormecido,

que jaz no sofá, ainda bem vestido,

como se fosse a um encontro.

 

O dia, recém chegado,

deletou de sua mente

os últimos lampejos,

embriagados,

das apaixonadas ilusões

ainda da noite agitada,

que acabara de falecer.

 

Se ainda restasse alguma esperança

naquele angustiado coração,

estaria adormecida,

ou, por que não dizer,

arrefecida!

 

No celular,

jogado no canto do sofá,

ainda estava ativa

uma mensagem dolorida:

“Carlos, me esqueça”!

“Não dá mais”!



INFÂNCIA LONGÍNQUA

22/02/2019

A-367

Como as nuvens que passam,

passam e não voltam,

foi minha infância querida.

 

Nuvens claras,

nuvens de tempestade,

nuvens trovejantes,

todas elas já passaram,

algumas deixaram marcas,

marcas indeléveis,

que mais aumentam a saudade.

 

Crianças e jovens me olham,

acham que já nasci adulto,

que nunca fui criança,

que nunca passei pelo que agora passam.

 

Alguns não ouvem,

não querem escutar,

querem fazer o próprio caminho,

e, decerto, vão tropeçar,

vão cair,

vão se enlamear,

espero que possam se levantar.

 

Minha infância,

fase tão querida,

quanta coisa linda,

flor que agora murchou,

enrugou,

embranqueceu,

encheu-se de manchas,

limitações,

apuros para subir no ônibus,

para enxergar seu destino,

para cruzar a rua.

 

Virei diminutivo:

mãozinha para tirar digital,

cabecinha para cortar o cabelo,

cabelinhos brancos,

pezinho para experimentar o sapato,

bracinho para tirar a pressão,

comidinha para o almoço,

leitinho para o desjejum...

 

Um dia eu fui criança!

Brinquei, briguei, me sujei,

me lavei, respondi mal,

xinguei,

gritei onde não devia,

chamava N. Senhora de “Apatatida”,

e cheguei à reta final.

Quão longa será?

Não sei.

Talvez seja também uma “retinha”.



-O SILÊNCIO

(Talvez 2011)

(Pequena brincadeira poética)

A-399

O silêncio da noite

Agride a mente

Com lembranças doloridas

De uma vida que se esvaiu.

 

O silêncio da noite

torna presente

As lembranças queridas

Da alegria que partiu

 

São dois mundos distintos,

São facas cortantes,

Inquilinos que habitam

E fatiam seu coração.

 

Ora um, ora outro,

Disputam, intermitentes,

Qual lhe chamará a atenção.

 

Numa síntese forçada

Por lutas embalada,

Ele assume a direção.

 

Nem dores, nem alegria,

Nem guerra, nem harmonia

Poderão assaltá-lo.

 

Apenas fecha os olhos

E degusta o silêncio,

Até o sono desligá-lo.

 

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