QUASE SEM RIMAS
(01/09/15)
A-209
O vento que me acaricia a face
leva consigo minhas tensões...
Sinto-me caminhando nas nuvens,
Deus me envolve totalmente.
A tarde amena, quase no final,
sacia minha sede de amor,
me une a esse Deus tão maternal,
que me ama com ardor.
Abandono o passado, ignoro o futuro,
tudo o que eu vejo é o agora salutar.
A alegria toma conta do meu íntimo,
mas não a quero revelar!
Quero capturá-la qual perfume,
com ela untar todo o meu corpo,
lubrificar as dobradiças de minha mente,
massagear o coração!
Meu universo se abre à minha frente,
muito maior que o pátio em que estou.
Vejo-me sozinho em meio a tanta gente,
como eremita, a quem nada mais restou!
Minha solidão me faz feliz,
porque nunca estou sozinho!
“Estou contigo!” - Deus me diz,
e a vocês todos, eu os encontro pelo caminho!
O DESERTO VERDADEIRO
04/12/15-
A-237
Dos desertos que já fiz
de dois deles não me esqueço:
fizeram-me feliz,
e isso não tem preço!
Um deles foi no Saara,
numa abadia emergida
da arreia, coisa tão rara,
que solidão tão querida!
Areia, calor e suor,
bisturis que me dissecaram,
fazendo aflorar todo o amor
que os mistérios de Deus me mostraram
O outro foi numa praia,
sem casas, sem gente, sem nada,
só mato, areia e uma arraia
sem vida, ali mesmo deixada.
A sensação foi igual
à que tive lá no deserto!
Areia ou mar, tudo é sinal
de que Deus está tão perto!
No deserto, solidão silenciosa,
no oceano, solidão barulhenta.
Ambas são capciosas,
a quietude me alimenta!
Mas o deserto do dia a dia
a dizer sou o primeiro:
não traz nenhuma poesia,
mas é o deserto verdadeiro!
JÁ SINTO SAUDADES
19/12/15-
A-243
Olho ao redor e já sinto saudades
da vida tão simples que aqui eu vivi,
no anonimato e na simplicidade,
e das muitas graças que aqui recebi.
Daqui me retiro com muita esperança,
volto à cidade onde cresci!
Muitas das coisas já me vêm à lembrança,
os desígnios divinos, nunca os entendi!
Só peço a Deus, pela Virgem Maria,
poder recomeçar meu itinerário,
com santidade e com muita alegria,
da messe divina, fiel operário.
Mais alguns meses e me mudo daqui,
Mas o amor de Jesus, eu nunca esqueci.
O OCASO E A EUCARISTIA
09/02/16
A-252
Como o ouro quase tão pura,
a areia do deserto ao sol brilhava;
o irmão Carlos, tão simples criatura,
em Assekrem, vendo o ocaso, meditava!
No mundo quase não há pôr-do-sol
como em Assekrem, tão lindo!
Ele funciona como um farol
que mostra de Deus, o amor infindo!
Deixando, porém, esse ocaso maravilhoso,
o Irmão Carlos, com muita alegria,
encontrava seu momento mais saboroso
na adoração constante da Eucaristia.
Meu Deus, criastes tudo o que existe!
Vistosos e ricos elementos!
Mas o bem mais precioso consiste
no Santíssimo Sacramento!
DONA ALEGRIA
29/02/16
A-258
Seja bem vinda, dona alegria,
a este meu triste coração!
Exerça em mim sua magia,
faça de mim seu pobre irmão!
O mundo me causa tristeza,
o egoísmo me faz sofrer!
Tira do ser humano a beleza,
impede-nos qualquer renascer!
Que sua presença, dona alegria,
nos leve a amar o irmão,
envolva a todos de euforia,
a todos dê um novo coração!
FICAR À TOA
06/03/16
A-259
A vida, intensa correria,
fazer nada...nem pensar!
Mas sempre chega aquele dia
em que nos obrigam a parar!
A angústia me reveste o coração,
o tempo se recusa a passar!
Onde colocar as mãos?
O que fazer? Não posso parar!
Jesus me fez dar uma brecada,
paro, no tempo e no espaço.
Tento descobrir aqui suas pegadas,
acomodo-me em seu regaço.
Dificulta-me contemplar
quão terrível é o deserto!
Um imenso espelho em que nos mirar,
torno-me nele um livro aberto!
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