quinta-feira, 20 de abril de 2017

SENTIMENTO DE CULPA


É aquela obsessão que não nos deixa viver em paz: coisas do passado que, mesmo não mais existindo, ainda apertam o nosso coração. Acabam impedindo nossas ações no tempo presente de nossas vidas.
Vamos ser sinceros: somos seres humanos, limitados, sujeitos às mais diversas paixões e comportamentos, fracos, necessitados de repouso, alimentação, trabalho, lazer, relacionamento de amizade e familiar, e tantas outras coisas; não somos anjos!

Entretanto, percebo que colocamos à nossa frente um protótipo de nós mesmos, do que achamos que devemos ser.

Quando essa conjectura nossa acerca de nós mesmos são motivadas por livros de auto-ajuda, de espiritualidade, de biografias de santos e santas, correm o risco de serem falsas, superficiais, inadequadas à nossa estrutura mental, social, histórica, psicológica, espiritual.

Nesse ponto, partimos para uma luta inglória, frustrada: moldar nossa vida àquele nosso protótipo que colocamos à nossa frente para ser seguido.

Minha gente, esse caminho é perigoso! Queremos viver uma vida de anjos e acabamos cheirando não a perfume celeste, mas a naftalina! E isso nos martiriza cada vez mais, entrando num círculo vicioso que não tem fim!

Vejam bem: Em primeiro lugar, as vidas dos santos preferidos nossos não foram tão tranquilas assim! Eles tiveram biógrafos que desconheceram muitas e muitas de suas lutas internas, de suas tentações, de suas quedas, desânimos, fraquezas, chatices, pequenas arrogâncias, impaciências, tentativas frustradas de apostolado ou de intenções até mesmo santas e interessantes, etc.

Em segundo lugar, nós não somos eles! Temos cada um nossa própria história, única, “modelo exclusivo”, como se diz em moda de vestuário. Podemos, sim, olhar para esses santos, como heróis e modelos, não para os seguirmos, mas para seguir Jesus, não exatamente na vida que Ele viveu, mas na vida que temos possibilidade de viver, na vida à qual Deus nos chamou.

São Paulo nos dá uma lição espetacular nesse assunto: de perseguidor da Igreja tornou-se evangelizador, sem sentimentos de culpa, sem “chiliques”, sem afetação. Ele deixou-se levar por Cristo; “Não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Ou em 2 Cor 12,1-13: “Glorio-me nas minhas fraquezas, pois quando sou fraco aí sou forte”.

Reconhecia seu pecado passado, estava arrependido, mas se sentia perdoado e abençoado por Deus, tão apóstolo quanto aos demais, amigo de Jesus Cristo. “Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está diante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus (...) Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegamos, conservemos o rumo” (Fil 3,13-14.16).

Lamentar demais o passado impede o que S. Paulo fala aí acima no versículo 16: nós não conservamos o rumo, pois ficamos feito bobos olhando para trás.

Amigo, amiga, conserve a humildade! Ela será os “trilhos” onde Jesus poderá “andar” em sua vida!

Ser humilde, simples, sincero (a), REALISTA, é, antes de tudo, conhecer-se bem, “ter-se em mãos”, como nos falava o Dom Lucas Moreira Neves, no retiro de nossa ordenação sacerdotal: TER-SE EM MÃOS! Vejo pelo menos dois sentidos nessa frase inspirada, que não é realmente desse bispo, mas já dos tempos apostólicos: o primeiro é aprender a controlar os próprios impulsos; o segundo, conhecer-se plenamente.

“Ter-se em mãos” significa não tanto nunca fazer nada de errado, mas saber exatamente como somos na realidade, ou seja, sem máscaras, sem teatrinho, sem fantasias. É ser humilde.

Humildade que nos leva:

-a perdoarmo-nos, como já pedimos que Deus nos perdoasse;

-a suportarmo-nos, como já pedimos que Deus nos suportasse;

-a ajudarmo-nos, como já pedimos que Deus nos ajudasse. E para isso, é preciso a vigilância.

Coloquemos isto em nossa mente: vamos continuar sendo tentados. Se resistirmos, ainda assim vamos ser massacrados pelas tentações. Porém, se continuarmos resistindo, as tentações vão nos deixar em paz; Aí e só então, vamos, finalmente, perceber o céu se abrindo e Maria, acompanhada pelos anjos e os coros celestes, nos trazendo uma toalha para enxugarmos o suor proveniente da luta, uma jarra de refresco, massagem, um cafuné nos cabelos, confortando-nos e nos preparando para a próxima luta.

Se abandonarmos a luta, o céu não se abrirá, não teremos nem a toalha nem o refresco: Deus ficará em silêncio, respeitando o nosso livre arbítrio (ou livre idiotice?), como me disse ontem um colega de trabalho, evangélico: “Deus deixou o mundo no piloto automático”. E eu acrescento: ele só tira do piloto automático se vencermos as tentações! Pois é: se não lutarmos, acabaremos, como tempo, não vendo nem mais o próprio firmamento: a escuridão nos cobrirá.

Amigo (a), lutemos! Mas lutemos em paz, confiantes, conhecedores de nossa más tendências, sem nos preocuparmos com o passado: ele não mais existe, não podemos mudá-lo. Entretanto, o futuro ainda está ao nosso dispor, e dependerá do que fizermos hoje, como dizia Santa Faustina, o papa João XXIII, Sta. Teresinha e uma legião de santos.

Como os alcoólicos anônimos, vivamos um dia por dia, um dia a cada vez. E hoje, acredite, você está perdoado (a), confortavelmente instalado (a) ao lado de Jesus. Se a tentação vier, diga a Maria para passar na frente e ajudá-lo (a), lute, fuja, enfrente, de acordo com o que for melhor no momento. E dia adeus ao sentimento de culpa!

 06/08/2012 

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