quinta-feira, 20 de abril de 2017

AS PENAS DO ESCRITOR

Uma das "penas", ou seja, um dos problemas do escritor é o fato de ninguém conhece realmente ninguém.
Eu mesmo já ensaiei várias vezes em escrever um romance, mas sempre me deparei com esse problema: tudo ou a maior parte do que eu escrever sobre alguém, é projeção minha. Talvez seus hábitos, falas, costumes, possam ser descritos e sobre eles eu possa refletir e comentar, mas... o que está por detrás do que ele diz ou faz? Se eu me arriscar a falar disso, será mero "achismo" meu, e não a realidade. 

As aparências enganam, e muito. Veja as pessoas que vivem com você. Será que você as conhece de fato? Arriscaria dizer "sim"? O que você poderia falar da real afetividade delas? O que elas sentem? Como veem as coisas? Será que elas não estariam disfarçando bem seus sentimentos? O que elas dizem que sentem por você seria real? 

Nunca vamos saber, a não ser quando uma delas colocar você em apuros, baseada em calúnias. Ou então quando é sua esposa e de repente você volta do trabalho e encontra um bilhete em cima da mesa, dizendo mais ou menos isto: "Adeus, querido. Fugi com o Wilson, o motorista do ônibus." 

Seus filhos são umas "pérolas", você confia muito neles, até que sua filha aparece "ligeiramente" grávida, ou o seu filho telefona da cadeia, onde foi preso traficando drogas... 

O contrário também é verdadeiro. Conheço pessoas aparentemente "nulas" e vazias, mas que por dentro são ótimas e capacitadas. Pode ser que seu filho ou sua filha pareçam mentalmente preguiçosos, mas tenham ótimas habilidades que você nem imaginava que as tivesse. 


Pois é! O escritor cria os seus personagens à sua imagem e semelhança, ou no mínimo baseado em suas fantasias e frustrações pessoais. Lendo um romance, um bom psicólogo pode chegar a pelo menos alguns pontos da mentalidade do escritor. As personagens são suas "crias" e trazem muito das experiências que ele teve na vida. As atitudes externas das pessoas são conhecidas e registráveis, mas não as atitudes internas. Essas, só Deus conhece. 


Só Deus poderia ser um escritor verdadeiro. Só Ele nos conhece plenamente. Mesmo uma autobiografia é irreal, porque ninguém se conhece plenamente e decerto o escritor manipularia muitos fatos que fosse transcrever, para mostrar a todos o que quer que eles pensem, ou, no melhor caso, ele escreveria um eu falso ("vaidade das vaidades, tudo é vaidade", diz Ecl 1,2). Quantas autobiografias fazem sucesso por aí e são quase que completamente manipuladas! 

Nós não conhecemos nem nós mesmos, nem os outros. Podemos escrever coisas maravilhosas, mas nunca vamos expressar a verdadeira verdade. Nossas "verdades" são não só limitadas, mas muitas vezes disfarçadas. 

Tirar as máscaras de nossa vida, ao menos diante de Deus e de nós mesmos, já que isso é difícil fazer publicamente, é o primeiro passo para uma vida santa e feliz. A felicidade é incompatível com a mentira. Se você falar a verdade, pode até ser preso...

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