segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O ÚLTIMO LUGAR


Estar no último lugar não é estar preso, ou doente, ou entrevado numa cama, ou não ter onde dormir, ou não ter o que comer, o precisar catar lixo para poder viver! Estar em primeiro lugar não é ter poder, nem ser rico, nem ser famoso, nem ser a rainha da Inglaterra, ou o presidente, ou estar livre!

Estar no primeiro lugar é estar sempre sem nenhum pecado. Isto nos dá uma grande alegria, tão bem comentada por Santa (Madre) Paulina, logo após ser destituída de presidente-fundadora da congregação religiosa que fundara, e rebaixada a uma faxineira comum e sem nenhum privilégio: “A presença de Deus me é tão íntima que me parece impossível perdê-la, e essa presença dá à minha alma uma alegria que não posso explicar”. Quem está no último lugar na “escala” dos homens, está nos braços do Pai e, portanto, no primeiro lugar na “escala” de Deus. Somos, pois, privilegiados!

Jesus, que estava no último lugar enquanto homem, achava-se no primeiro lugar, junto de Deus: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30; 17,22; 14,10) – “O Pai está em mim, e eu estou no Pai” (João 10,38). Disse o padre confessor de São Carlos de Foucauld: “Jesus escolheu de tal forma o último lugar, que ninguém o poderá arrebatar”. Diz João 12,24: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”.

Em Mt 11,28-30, Jesus acolhe os que estão no último lugar: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomais sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve”. E Isaías 49,15: “Ainda que a mãe se esqueça do filho a quem deu à luz, eu (Deus) não me esquecerei de vocês”.

Agora, os que estão fisicamente no último lugar (pobres, analfabetos, desempregados, doentes) e sentem dificuldade de se oferecerem a Deus e sentirem-se “bem-aventurados” (Mt 5,1 a12), devem ser ajudados por nós a chegarem à felicidade em duas etapas: na primeira etapa, procurarem ser felizes aqui e agora; na segunda etapa, poderem sair do último lugar e melhorarem suas vidas. Jesus nos aconselha a ajudarmos os que estão no último lugar, e até promete recompensa aos que os ajudarem (Mt 18,5; 10,42).

Escrevia-me uma Irmã Missionária da Consolata que eu apelidei de “Quinta Evangelista”, nascida em 1920, mais de 68 anos de vida religiosa, que ficara feliz em esperar o dia todo, no hospital, como os pobres, para “consertarem” o deslocamento de seu braço. A solidariedade com os que sofrem faz com que esqueçamos os nossos sofrimentos, e nos torna felizes: “Fiquei feliz em poder ter oferecido a Deus esse sacrifício, por todos aqueles coitadinhos que estavam sofrendo ali comigo (...). Agora que estou perto da eternidade, mais ainda quero fazer com amor e alegria tudo o que Deus permitir em mim, porque sei que Ele me ama e espera a minha resposta de amor” (da carta da Irmã).

Santa Faustina dizia que, com a graça de Deus, o nosso sofrimento pode transformar-se em prazer. É o que aconteceu com Jesus Cristo: À medida que se aproximava o fim, em que ele se aproximava da morte, ficava cada vez mais feliz, por saber que, com aquele sofrimento e entrega total ao Pai, estava nos salvando! Esse é um privilegio das almas puras (ou seja, sem pecado). A prisão (o sofrimento) nos purifica e nos torna aptos para recebermos toda a Santidade de Deus (Hb 12,10). Saber que estamos cada vez mais correspondendo à graça de Deus nos faz muito bem!



Tudo o que eu escrevi, aqui, tem como objetivo confortar os que estão no último lugar. É um lugar privilegiado, mas que nem sempre é compreendido e aproveitado para a vida eterna. O tempo de prisão ou de doença, ou de qualquer sofrimento que nos deixe em último lugar, é um tempo “mágico” de purificação e santificação, se fizermos isso “de todo o coração, como ao Senhor, e não aos homens” (Colos 3,23). É claro que todos querem sair de seus sofrimentos, mas enquanto isso não acontece, devem aproveitar esse tempo para crescerem na fé, na santidade, e sentirem que estão reparando as faltas cometidas no passado.



EIS OUTRO TEXTO SOBRE O MESMO TEMA:


Há uma ideia (um paradigma) de que a felicidade só é possível se estivermos em primeiro lugar. Jesus Cristo desmente isso, pois ele ocupou o último lugar, que nunca lhe será tirado, e sempre foi feliz.


Um doente grave está em último lugar, assim como um preso, ou um pobre que vive na miséria.

O Beato Carlos de Foucauld escreveu a “oração da confiança” em que pede o que sobrou, o que ninguém pediu a Deus. Ele ali não pede nem riqueza, nem fama, nem poder, nem saúde, nem tranquilidade, nem o êxito, mas pede a insegurança, a inquietação, a luta e a tormenta. Mas pede também a coragem, a força e a fé para enfrentar tudo isso que está pedindo.

Uma das vantagens de estar no último lugar é que ninguém o inveja. Não se pode fazer planos; não se participa de nada. Não há trabalho digno, ou mesmo indigno. Às vezes a pessoa do último lugar só vegeta.

Os prisioneiros, último lugar na sociedade, que são realmente culpados podem sentir o alívio de estarem “pagando” pelos seus crimes e podem voltar à sociedade “de cara lavada”. Para que isso ocorra, é preciso encontrarem Deus e uma comunidade eclesial, além de vigiarem muito, a fim de não caírem novamente. Os de fora se sentem “vingados” com a prisão dos que os prejudicaram e há dúvidas se os vão receber novamente.

Os que foram presos injustamente, com provas forjadas ou até sem provas, podem sentir-se reparando as faltas passadas e sentirem o amor de Cristo envolvendo-os e às suas vidas. Podem sentir uma grande paz e energia inegáveis. Jesus está sempre presente nos que estão, como ele esteve, no último lugar.

Quando promovemos os pobres e demais pessoas que estão no último lugar, devemos pensar principalmente em sua vida espiritual, não só na material.

Não basta simplesmente sair do último lugar: é preciso também buscar o Reino de Deus, converter-se das más atitudes, controlar as más tendências e buscar a santidade. Muitos apenas mudam de classe social, mas o interior deles continua mesquinho.

Colocar-se nas mãos de Deus é, mesmo sem deixar o último lugar, colocarmo-nos à disposição dele a cada dia da vida, sem desânimo e com muita confiança. Aliás, uma das coisas interessantes de se estar no último lugar é que não precisamos nos preocupar com nada, além do alimento: sem competições para cargos, sem medo das invejas, sem angústias, sem desesperos! Simplesmente somos esquecidos ali, e isso nos traz alguma tranquilidade.

O último lugar não é sinônimo de fracasso, nem de tristeza: é o conforto de se saber no mesmo lugar de Jesus na cruz, e a sensação de segurança que encontramos nele. Se lhe dermos a direção de nossa vida, ele a pilotará como nenhum outro e um dia, no céu, estaremos em primeiro lugar, com os anjos e santos. Amigos (as), acho que vale a pena!

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