segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

JOIO, TRIGO, OU AMBOS?

É costume entender a parábola do trigo e do joio como Jesus a explicou, mas sem aplicá-la à nossa vida de hoje (Mt 13,24-30 e 36-43).

Na parábola Jesus disse que há os bons e os maus que vivem juntos até o Juízo Final, onde serão separados os bons (o trigo) dos maus (o joio).

O problema é que mesmo entre nós, cristãos, não há pessoas totalmente boas e pessoas totalmente más. Eu costumo dizer que todos nós somos um pouco trigo e um pouco joio. Alguns são mais trio que joio, outros, mais joio que trigo.

Se nós combatermos o “joio” dentro de nós de tal forma que no dia de nossa morte o trigo (o bem que praticamos) prevaleça e esteja dominando a parte má (o joio), vamos ser “colhidos nos celeiros celestes”.

Não é um tanto preconceituoso e orgulho dizermos “Eu sou trigo” e apontarmos o dedo para um outro coitado que talvez nunca tenha recebido educação alguma e dizer: “ele é o joio”? Aliás, essa era a maneira com que os fariseus e as demais autoridades judaicas tratavam os outros, e isso era muito criticado por Jesus!

Tenho percebido muita coisa boa em pessoas aparentemente más e até desprezadas pela sociedade. Algumas dessas pessoas foram, aliás, amigos e amigas mais benéficas para mim do que muitas outras que se diziam “puros trigos”!

Em Atos 13,50 lemos que foram “mulheres piedosas” que expulsaram Paulo de Antioquia da Pisídia. As mulheres não religiosas ou não piedosas não lhes fizeram mal algum!

Os ateus, considerados “joios” por muitos, são, geralmente, muito humanos e condoem-se pelo mal alheio. São geralmente ótimos ouvintes de nossas queixas e sempre tentam um conforto imediato para nossas dores, ou seja, agem com prontidão. São Tiago diz, a esse propósito, que não adianta nada a gente despedir com uma bênção quem pede comida, e não lhes dar nada!

Em Mateus 25,31-46 (o julgamento final), vemos como nem todos os que considerávamos bons eram trigo e nem todos os que considerávamos maus eram joio. Vejam por exemplo o Betinho, que se declarava ateu, como ajudava as pessoas! O Leonardo Boff dizia que o Betinho iria recusar entrar no céu até que todos entrassem!

Na ditadura militar houve, numa cidade do interior, uma “desova” de um ônibus cheio de menores de rua. Sabem quem os ajudou? Não foi nem o prefeito, nem o padre, nem o pastor evangélico: foram as prostitutas de uma pequena vila em que moravam. Conseguiram roupas e alimento para todos. Os demais cristãos “puros” ficaram de fora, por medo dos militares. Não basta ser casto para entrar no Céu. É preciso também a caridade verdadeira. Lembremo-nos de que na parábola das 10 virgens, as cinco imprudentes eram virgens, mas não entraram nas bodas (= o paraíso). 

Eu já me emocionei várias vezes na vida ao ouvir “pérolas” de pessoas consideradas “joio” pela sociedade. Muitas delas rezam para dormir e, por contradição, até mesmo antes de cometerem seus crimes! Por aí, percebam como não entendem nada do que seja ética, moral, nem a oração e o contato com Deus!

Alguns padres têm muitas vezes uma parcela de culpa na não integração das pessoas na vida da Igreja. Um conhecido meu cometera muitos crimes e resolveu mudar de vida. Procurou um padre (ele morava em Guaratinguetá) para confessar-se, mas o padre nada lhe disse, e só pediu que ele rezasse um Pai-nosso, uma Ave-Maria e um Glória ao Pai. O rapaz queria uma orientação, um caminho, uma luz. Não a obteve, até que se encontrou com as Testemunhas de Jeová, que lhe deram essa orientação. Atualmente ele é um dos maiores militantes dessa religião.

Um pouco de mal pode prejudicar todo o bem que fizemos. A pastora norte-americana Joyce Mayer diz que certo dia fez um bolo e, como brincadeira, falou para os filhos que havia posto uma pitadinha só de cocô de cachorro no bolo. Resultado: ninguém quis comê-lo! Assim é, também, a calúnia ou o mal: estraga tudo o que a pessoa fez de bom!

Lembro, então que todos nós somos um pouco de trigo e de joio. Pela oração, pela vigilância, caridade, humildade, trabalho árduo, podemos erradicar o joio de dentro de nós e fazermos florescer o trigo.

Se tantos santos e santas o conseguiram, por que não nós? Efésios 3,20, garante que “Deus é poderoso para fazer por nós, em tudo, muito além, infinitamente além do que pedimos ou pensamos”! Meu Deus, que coisa bonita!

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