segunda-feira, 26 de junho de 2017

TOQUINHO, O PARDAL



Na hora do almoço da firma onde eu trabalhava quando jovem, costumava sentar-me num local gramado e arborizado, com um colega de trabalho. Assim como eu, ele gostava de poesia, música, filmes, livros, cultura em geral. Conversávamos longamente nessa hora de descanso.


Sempre nos acompanhava, em nossas conversas, um pardal que, entre todos os que ali comiam as migalhas que se lhes ofereciam, se destacava por um pequeno defeito: não tinha cauda. Nós o apelidamos de “toquinho”. Ele era muito engraçadinho, pois parecia um ovo de asas.


O Toquinho me fez muitas vezes pensar em nós humanos. Somos todos iguais até certo ponto. Há um momento da vida em que muitos, como o Toquinho, se destacam dos outros e ficam conhecidos.


Quantos pardais estavam sempre ali, mas nós só reconhecíamos o Toquinho. Quantos seres humanos são especiais e seriam importantes em nossa vida, mas não se destacaram e não ficaram conhecidos.


Estou escrevendo isto anos depois, sem o meu amigo e sem o Toquinho. Só me restou a saudade. Meu colega de trabalho mudou-se para São Paulo. Não faço ideia de quando vamos nos ver novamente. Ele escreveu já vários livros de literatura. 


Toquinho: um pardal que se tornou único, por trazer consigo um defeito. Símbolo de tantos que se sobressaem, ou no bem, ou no mal.


Toquinho: um simples pardal, mas que, como tudo o que existe, era criatura de Deus e me faz lembrar dele, de seus sons artísticos ao criar uma natureza tão bela e majestosa.


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