quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

MINHAS ESCALADAS



09/01/2020 
Quando eu era jovem gostava muito de fazer pequenas escaladas. Escalei o pico Itaguaré, de Passa Quatro (Minas), o Pico dos Marins e o Agulhas Negras, no Parque do Itatiaia (pela parte mais fácil).

Eu fiz isso várias vezes e gostei muito. Em minha cidade também há algumas montanhas, mas não oferecem dificuldades: apenas o cansaço da caminhada. Entre os três, gostei mais do Agulhas Negras.


Em pensamento muitas vezes eu me vejo no alto do Pico Agulhas Negras, em que estive várias vezes. Vejo as cidades pequenas, lá embaixo. Nenhum som a não ser o roçar da brisa nas plantas pequenas, já que em cima do pico não há plantas grandes: a altitude não permite. 

Foi difícil subir, mais de duas horas de escalada. Meus colegas de caminhada estavam também descansando aqui e ali. Eram quatro ao todo. Li a placa colocada por escoteiros pioneiros, comemorando sua proeza. Há também uma cruz, em que um dos colegas subiu para uma foto na escalada de 1976. Que alegria! 

A brisa suave do pico Agulhas Negras me levou longe, longe de tudo. Eu fecho os olhos e sinto o que então senti lá: a liberdade. Liberdade de abrir os braços e abraçar o horizonte, a amplidão! 

Liberdade de poder gritar o que bem entender e ninguém criticar ou se ofender! 

Liberdade de dizer ao Pai como são maravilhosas as suas criaturas! 

As coisas mudaram, continuam mudando. Quantos projetos tínhamos na mente e no coração! Quanta alegria contida nas conversas e brincadeiras! A vida foi passando... as coisas acontecendo... 

Senti, na época, um pouco de tontura e pedi a um dos participantes um pouco de vinho do cantil de couro que ele o levara. A pressão abaixara e o vinho tinha sido levado pra isso mesmo. 

Nesses momentos eu me lembro da morte. Cair enquanto a gente escala é muito fácil. Basta um desequilíbrio. Como já disse, eu subi por quatro vezes no Agulhas Negras, sempre acompanhado de 4 ou 5 colegas. Numa dessas vezes quase despencamos lá de cima. Vimos a morte de perto. Eu amparei um deles no peito. A sorte é que o meu pé estava enroscado numa fenda. Foi o que nos salvou! Alguém havia tirado o cabo de aço da rocha, que aqueles já mencionados escoteiros haviam colocado. 

Bem, vou morrer algum dia. Quando? Não faço a mínima ideia! Será que vou saber que vou morrer? Não sei. E não terei tempo de transmitir pra ninguém esse conhecimento! 

Beethoven teve sua melhor inspiração no justo momento de sua morte! Só teve tempo de esmurrar o ar, para o alto, não em direção a Deus, talvez, mas acredito que tenha sido em direção ao formidável relâmpago que produzira aquele trovão majestoso que lhe dera a tal inspiração. Seria sua 10ª sinfonia, que foi com ele para o túmulo. Os anjos, talvez, a orquestraram e a tocaram... 

Mas... será que não foi ao contrário? Será que não foram eles que a compuseram e, no instante daquele trovão/relâmpago não a colocaram em sua mente? Na verdade os Anjos são muito mais inteligentes e inspirados do que nós! 

Mas volto ao Pico Agulhas Negras. Quanta dificuldade para subir! Quase três horas! Mas, para descer, apenas uma hora e meia. Assim é a nossa vida. Que dificuldade para subir até onde estamos! Mas para descer, bastam algumas palavras caluniosas a nosso respeito e descemos como rojão, como diz Jesus: “Vi Satanás cair do céu como um raio” (Lucas 10,18). 

Acho que foi em 1979 a última vez em que lá estive. Tinha 34 anos. Digo aos jovens de hoje: não deixem de escalar pelo menos uma montanha em sua vida. Já a minha diretora, de ginásio, com jeito nordestino, quando eu fazia o segundo grau, aconselhava muito a nós fazermos escaladas. Ela dizia que fortalecia o corpo e a alma. E tinha razão.

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