sábado, 10 de março de 2018

VELHICE


nov 2013

Eis um artigo que posso escrever sem consultar, nos meus quase setenta anos de idade. Talvez seja um artigo mais próprio para os jovens do que para nós, idosos, pois muito do que fazemos na infância, adolescência e juventude é a causa de nossas agruras e alegrias na velhice.

Há muitos idosos que adoecem mesmo tendo uma juventude sóbria; são os mistérios inevitáveis de nossa id. A esses, eu diria apenas que procurem lutar sempre, sem desânimo, para readquirirem uma saúde pelo menos razoável. Entretanto, acredito que nos intervalos dos achaques possam também ser felizes e, apesar dos sofrimentos, vivam em paz. Se essa paz vier de Deus, sempre podemos ser felizes.

É mais comum haver uma velhice problemática entre os que abusaram do cigarro, bebida, alimentação (sal e gordura) e outros itens maléficos; há, porém, muitos idosos sadios mesmo entre os que abusaram de tudo. Mais uma vez são os mistérios da vida. 

Outro ponto para lembrarmos é que para os que constituíram apenas uma família, a velhice se mostra mais agradável do que para os que constituíram duas ou mesmo três famílias diferentes (separaram-se e casaram-se novamente). Mas nem isso é constante: muitos que só possuem uma só família moram em asilos, são abandonados, ao passo que muitos com várias famílias vivem amparados.

Um padre do Chile, Pe. Álvaro Gonzales, da pastoral universitária, dizia num retiro que "Shalom" significa: "No meu coração tenho um lugar para você". Essa é a paz partilhada. 

A paz na velhice nos envolve quando:

-assumimos nossos erros e pedimos perdão, como um ato de oferecimento e de amor a Deus.

-recomeçamos diariamente nossa vida.

-enxergamos a estrada que ainda temos que trilhar iluminada pela luz divina.

-buscamos a felicidade ou mesmo a conversão e a mudança para melhor dos nossos inimigos.

-perdoamos de coração aos que nos prejudicaram.

-ao acordarmos, sentimos que Deus nos colocou em seus braços, nos alimentou com o Corpo e o Sangue de seu Filho, nos colocou uma blusa para que não sentíssemos frio, um sapato nos pés para não nos ferirmos, uma água fresca em nosso cantil, um boné para quando começasse o sol, uma luz para nos iluminar nas trevas, um lanche em nossa mochila, uma caixa de pronto-socorro para nossas quedas, uma música gostosa para nossos ouvidos, o doce de que mais gostamos nos esperando no final de nossa caminhada...

Aí, então, não há motivos para não nos sentirmos felizes! A velhice se torna uma etapa gostosa em nosso final de vida!

Uma coisa boa da velhice é que podemos tirar as nossas máscaras e não termos mais medo de nos mostrar como somos! Também podemos nos comunicar sem medo algum de cometermos gafes, pois quase todos nos perdoarão; todos nos pouparão esforços, quase todos nos chamarão de "vovô".

Quase nada não mais nos escandaliza, e nos tornamos indulgentes para com tantos erro e bobagens que os mais novos cometeram. 

Nosso passado vira contos fantásticos, que narramos para os nossos netos e demais pessoas novas. As piadas antigas se tornam novam para os que nunca as ouviram"

Certos gostos nossos são prontamente realizados "antes que ele morra com vontade disto ou daquilo", como os mais novos comentam. 

Como a morte nos está próxima, tudo o que existe perde a importância, e a pátria celeste se torna o nosso anseio, nossa meta final e tão próxima!

Revemos o nosso passado, pedimos perdão do que erramos e do que poderíamos ter feito e não fizemos.

Levanto-me de manhã, cruzo as mãos para trás, respiro o ar fresco da manhã, olho o nascer do sol, e sorrio: tenho o dia todo para trabalhar devagarinho ou simplesmente para não fazer coisa alguma. E na brisa suave, elevo o meu pensamento para Deus...

As agruras da velhice são minimizadas ou até superadas quando aceitamos totalmente nossos limites, quando somos conscientes de que não temos mais aquele vigor da juventude, nem a rapidez de raciocínio de nossos vinte anos!

Não percebemos a velhice dentro de nós: a alma nunca envelhece; só o corpo. Sabemos que envelhecemos porque nos olhamos no espelho e somos chamados de "senhor", de "vovô" e coisas semelhantes.

É por isso que é necessária uma conscientização constante de que os outros nos veem como parecemos: um velho de 70, 80 anos; nós nos vemos como nossa alma é: um garotão de vinte e cinco anos. Eis o perigo!

Nossa Senhora sempre que tem aparecido aqui e ali (Fátima, Lourdes, Salete, Medjugorje, Guadalupe), não aparenta mais do que 17 anos de idade: essa deve ser a idade com quase ressuscitaremos! Essa é a idade que pensamos que ainda temos. Mas não a temos mais: caia na real! Você é uma pessoa idosa, mas que mantém a felicidade, a paz, e a juventude de espírito!

(A tempo: nós não pagamos ônibus urbanos). 

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