sábado, 10 de março de 2018

A SIMPLICIDADE

INTRODUÇÃO

Este é um tema muito difícil, pois são muitas as interpretações desse assunto na Bíblia.

Atualmente a simplicidade e a pobreza ganharam novas formas de serem vividas, diante da parafernália de veículos de comunicação, entretenimento e trabalho

Apresento aqui reflexões pessoais sobre esse assunto, baseado na Bíblia, e cada um aplique como puder em sua própria vida. Tudo o que é radical e exagerado não é aconselhável. Um dos problemas que vejo em minha vida e em geral é que perdemos muito tempo com muitas coisas que não são tão necessárias como pensamos que sejam, e deixamos várias outras coisas, essas sim importantes, de lado.


A correria da vida atual se une às dispersões de tempo com essas coisas desnecessárias de que falei, e acabamos não tendo tempo para a oração, para a família, para um pouco de lazer mais saudável etc.


Dificilmente alguém consegue viver uma pobreza radical hoje em dia. O próprio Cristo, ao falar aos setenta e dois discípulos que fossem pregar o evangelho despojados de tudo, disse-lhes que aceitassem o que lhe oferecessem como alimento, e entrassem na primeira casa que lhes desse hospedagem. Eis aí a simplicidade: eles não deviam ficar escolhendo a casa que achassem mais bonita, mais limpinha; entretanto, podia acontecer que a primeira casa que os acolhesse fosse uma casa de pessoa abastada...


Espero que as meditações aqui apresentadas ajudem você a revisar a própria vida, mas sem nenhum exagero: simplicidade, para encontrar Deus (Sabedoria 1, 1-5), pobreza para acolher o irmão.


A SIMPLICIDADE


O livro “ A Imitação de Cristo”, do século 13, diz no capítulo 18 do livro 4 : “Ó bem-aventurada simplicidade, pela qual deixamos de lado as vãs discussões para andarmos no caminho plano e firme dos mandamentos de Deus!” . . .


Antes dele, o livro da Sabedoria, capítulo 1, versículos de 1 a 5, já flava que os simples conseguem obter a revelação da pessoa de Deus. Ele se revela aos simples e aos que não o põem à prova.


Simplicidade significa, portanto, antes de tudo, confiar em Deus plenamente, deixando em segundo, terceiro ou mesmo último lugar aquilo que nos dá prepotência sobre os outros, ou uma situação financeira privilegiada, abandonando completamente tudo o que nos pode separar de Deus, tudo o que for supérfluo e secundário . As coisas que não puderem ser renunciadas, não se apegar a elas, porque um dia nos “deixarão na mão”, como o povo fala. (Você pode encontrar o livro " A Imitação de Cristo" no site abaixo, só bastando clicar:


Quando uma pessoa perde a liberdade de uma forma ou de outra (pela prisão, por exemplo, ou pela doença), tudo, tudo mesmo, o que norteava sua vida muda de lugar em sua escala de valores. Coisas que ocupavam o primeiro lugar de sua atenção passam a lugares mais últimos e vice-versa.


Mesmo na prisão ou num leito de hospital vemos como as coisas são relativas. Se a pessoa mora num lugar escuro e insalubre, sem higiene, e muda-se para outro um pouco melhor, parece que entrou no paraiso! O doente, ao sair do hospital para sua casa, acha que ganhou na loteria.


Tudo é relativo e secundário se colocamos como nossa meta principal o Reino de Deus. Dizia São Tomás de Aquino: “É melhor andarmos mancando (claudicando) no caminho certo do que correr no caminho errado, pois só chegaremos ao paraiso se estivermos no caminho certo, estejamos correndo ou mancando”.


Nos sofrimentos e nas dificuldades, nas coisas que tiram a nossa liberdade, como a pobreza extrema, nós nos encontramos com a realidade da vida, nua e crua. As ilusões e as mentiras se desfazem como fumaça. Uma das consequências é que passamos a sentir um tipo de algeriza por tudo aquilo que não agrada a Deus. Entretanto, antes de “cairmos na real”, ou seja, de percebermos que a vida é curta e é também cheia de surpresas desagradáveis que se alternam com as agradáveis, entramos em crise, nos desesperamos, nos desiludimos, e aí nos restam poucas opções.


A opção que mais nos leva a uma santidade de vida e à felicidade é aceitar o fato de que somos pecadores e considerar sinceramente os próprios pecados, atuais ou passados, incluindo aí tudo o que fizemos de errado ou todo o bem que deixamos de fazer. Em seguida, começarmos uma vida nova, de simplicidade, de confiança ilimitada em Deus, uma vida real, de “pés no chão”, de misericórdia, humildade, confiança, de muito amor, de vigilância e oração.


Quando estamos livres e com saúde, adquirimos necessidades supérfluas, necessitamos de uma montanha de coisas para viver. Quando ficamos doentes ou sem liberdade, percebemos que não precisamos de nada daquilo. Passamos a viver com bem pouca coisa.


Quantas coisas inúteis e/ou supérfluas vamos agregando ao fardo que levamos às costas! É um fardo pesado, constrangedor, deprimente, cansativo, que nos leva a um enfado, a um descontentamento e a uma aversão ao ritmo que estamos dando a nós mesmos.


O ser humano só se sacia em Deus e em ninguém mais! O milionário nunca se fartará de dinheiro! O glutão nunca se fartará de comida! O irritadiço nunca se acalmará! Os vícios, o uso doentio das coisas supérfluas, nos levam a uma tristeza conosco mesmos, a um desânimo de viver que muitas vezes conduzem ao suicídio. A paz só vem de Jesus. Só ele pode nos libertar de nós mesmos, de nosso fardo pesado. É Jesus quem nos diz:


“Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos.(...)Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”. (Mateus 11,25.28-30).


A simplicidade nos leva a ser pobres em espírito e puros de coração (Mateus 5,1-8). Quando entramos em crise ao nos lembrarmos de quantas coisas no passado deixamos de fazer pelos outros, principalmente pelos nossos pais e pessoas mais achegadas, pelas vezes que não demos testemunho de nossa fé, devemos pedir perdão e gravar em nosso coração como disse S. Paulo:


“Deus é poderoso para realizar por nós, em tudo, muito além, infinitamente além de tudo o que pedimos ou pensamos”. (Efésios 3,20).


Essa convicção vai nos tirar da depressão, do estresse, vai nos dar alívio, se nos colocarmos nos braços do Pai, que, poderoso, poderá nos purificar e conduzir a nossa vida por um caminho de confiança e de esperança.


Se Deus é assim tão poderoso, ele pode também ser todo misericordioso, como diz Jeremias 31,3:


“Eu te amei com um amor eterno; por isso guardo por ti tanta ternura!”


Por isso tenhamos certeza de que ele nunca nos abandonará, se deixarmos que ele tome conta de nossa vida, como diz Isaías 42,16;


“Eu nunca hei de abandoná-los”


E em Isaías 49,15:


“Mesmo que a mãe se esqueça do filho que gerou, ou deixe de amá-lo, eu jamais me esquecerei de ti!”.


Ou ainda em Isaías 66,13:


“Qual mãe que acaricia os filhos, assim também eu vou dar-vos o meu carinho”.


Se estivermos dispostos a deixar os pecados e nos aproximarmos de Deus, ele nos perdoará nossos pecados, conforme lemos em Miquéias 7,19:


“Ele vai nos perdoar de novo! Vai calcar aos pés as nossas faltas e jogará no fundo do mar todos os nossos pecados”.


Se formos inteligentes vamos perceber que a melhor saída, a melhor solução é confiarmos em Deus permanentemente e totalmente! Sta. Teresinha já dizia isso, em palavras parecidas com estas:


“A lebre, ao ser perseguida pelos cães, refugia-se, assustada, nos braços do caçador”.


Eu acho essa frase magnífica! Na crise de desânimo, de enfado, de repugnância por tudo, e às vezes até por nós mesmos, precisamos e podemos, para nos livrar de um Deus-Juiz, nos refugiarmos e pedirmos ajuda no Deus Salvador e misericordioso”. Vendo que não há outra saída, ou seja, que não dá para nos livrar do perigo, refugiemo-nos nas mãos do próprio Juiz enquanto estamos vivos e nesta terra! Enquanto estivermos por aqui, ele não é juiz: ele é salvador. Um modo bem prático de fazer isso é colocar diante dele todo o nosso passado, mudando a direção de nossa história para uma meta mais santa, ou seja, em direção ao paraíso, e obteremos novamente a paz para a nossa vida


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