sexta-feira, 25 de maio de 2018

A POBREZA DO EVANGELIZADOR

25/09/2010- postado em 02/02/17)


O ensinamento dado por Jesus quanto ao “modus vivendi” dos evangelizadores foi transmitido por São Lucas 9,1-6, assim como por Mateus 10,9-10 e Marcos 6,8-9:

“Não leveis nada para a viagem, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais cada qual duas túnicas”.


 Jesus exige pobreza dos que vão pastorear o povo, pois Ele é que nos dará a força e os meios necessários: Mateus 6,25-34:

“Não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir (...) Não andeis preocupados dizendo: “Que iremos comer”? Ou: “Que iremos beber”? Ou: “Que iremos vestir”? (...) Vosso Pai celeste sabe que tendes necessidade de todas essas coisas. Buscai, em primeiro lugar, seu Reino e sua Justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.

Jesus falou em Lucas 12,33-34 ou Mateus 6,20-21:

“Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Pois onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”.

Lucas 3,11: “Aquele que tem duas túnicas, dê uma àquele que não tem, e o que tem alimentos para comer, faça o mesmo”.

Lucas 5,11: “Depois de levarem as barcas para a terra, abandonaram tudo e o seguiram”.

Lucas 5,28: “Ele (Levi), deixando tudo, levantou-se e o seguiu”.

Lucas 6,30:”Dá a todo aquele que te pedir e não reclames de quem tira o que é teu”.

Lucas 11,41: “Dai, contudo, esmola segundo vossas posses e tudo será puro para vós”.

Jesus convidou o jovem rico a ser Apóstolo com essas palavras, de Lucas 18,22:

“Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que possuis e dá aos pobres. Possuirás assim um tesouro no céu. Vem depois e segue-me”.

A Cornélio, o anjo disse em Atos 10,4b:

“Tuas orações e tuas esmolas subiram à presença de Deus e te são reconhecidas”.

Ou seja, de modo garantido, Jesus gosta das esmolas e das orações, do desapego, da pobreza evangélica.

Lucas 14,33: “Assim, pois, qualquer um de vós (=qualquer um!) que não renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo”.

A parábola que Jesus contara, nesse texto, é a de um homem que pensa em construir uma torre, mas não vai conseguir terminá-la sozinho, com o próprio dinheiro. Também conta a história do rei que pensa em guerrear contra o reino vizinho, mas não sabe se tem o exército suficientemente forte. Precisará de ajuda!

Só Jesus pode nos dar ou nos permitir a vitória! Sem ele, ficaremos “à beira do caminho”. É o que nos diz o salmo 126 (127):

“Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os construtores; se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigiam os guardas. É inútil que madrugueis e que atraseis o vosso repouso noturno para comer o pão com duros trabalhos: ao seu amado ele o dá enquanto dorme”!

Quando Jesus pede o desprendimento e a pobreza aos discípulos, e portanto atualmente a nós, evangelizadores, quer, de fato, nos ensinar várias coisas:

1- Sermos um instrumento nas mãos de Deus, deixando que ele nos guie, e por nosso intermédio, guie o povo.

2- Não cairmos na rede traiçoeira da ganância e pecados afins, como a inveja, o medo do futuro, a insegurança, as intrigas por interesse, a busca dos melhores lugares de trabalho, a preferência pelos ricos e pelos (as) perfumados(as) e assim por diante. 

3- Lembrar-nos e ao povo de que a verdadeira vida é a outra, é a vida eterna, da qual esta é apenas o “ensaio”, a preparação do prato que vamos levar para a festa do céu.

4-Lembrar-nos e ao povo que a vida é breve e logo a “irmã” morte nos bate à porta!

5-Estarmos plenamente livres quer psicologicamente, quer politicamente, quer sociologicamente, para enfrentarmos os problemas e percalços do nosso ministério. Ser pobre é estar no último lugar, ninguém inveja. É um lugar privilegiado, no qual Jesus permaneceu a vida toda. O pobre, mesmo o evangelizador pobre, tem sua vida descomplicada e “cabe” em qualquer lugar, não tem preocupações materiais, se confiar na Providência Divina.

1ª Pedro 5,6-7: “Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que Ele vos exalte no tempo oportuno. Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque Ele cuida de vós”.

Comparo a atitude de trabalhar confiando em Jesus, numa vida simples, pobre, partilhada, na humildade, sabendo ter paciência, sabendo esperar a ação de Deus, não agindo sozinho em com arrogância, com o aviador que coloca o avião no piloto automático. Ele está em seu posto, mas quem governa o avião é o computador. Quem não confia na ajuda e na presença de Deus, ou seja, quem confia apenas no seu trabalho, está dirigindo com as próprias forças e conhecimento o avião; os que coordenam o trabalho sabendo que é Deus quem, o exerce e o executa, é o que colocou o avião (=suas vidas, suas ações) no piloto automático (Deus).

Sobre a imbecilidade da ganância e de se confiar nos bens materiais e mesmo nos meios sofisticados de evangelização, nos diz Lucas 12,13-21:

“Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. (v 15).

Lucas 12,20:”Louco! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste”?

Em Atos 3,6, Pedro diz:

“Prata e ouro não tenho. Mas o que tenho, isso te dou...”(e curou o coxo de nascença).

A dignidade dos evangelizadores é bastante profunda e séria. Na Igreja Católica há a doutrina de que o padre ou o bispo, pela sucessão apostólica, age “in persona Christi” quando celebra os sacramentos, ou seja, é o próprio Cristo quem age, naquele instante, por meio do sacerdote. É por isso que a Missa é considerada a própria Santa Ceia, e não uma representação da Santa Ceia. Por mais que o padre tenha pecados, na hora da consagração da Missa, em que o pão e o vinho se tornam o Corpo e o Sangue de Cristo, nós acreditamos que é o próprio Cristo quem está ali consagrando.

Até me dá arrepio ao falar nisso. Naquele momento eu “viro” Jesus, Ele está em mim! Mesmo os pastores evangélicos, as pastoras, as pessoas que evangelizam nesse mundo afora, mesmo eles têm a presença viva de Jesus na pregação, embora não tenham a sucessão apostólica.

Só isso é motivo suficiente para sermos servidores pobres do Senhor, para buscarmos nossa santidade, uma santidade genuína, sincera, a toda prova.

Precisamos deixar de lado nossas inseguranças e desconfianças! Ou acreditamos ou não que Deus está conosco, que Ele nunca nos abandonará! Não deveria haver meio termo.

Muitos dizem que os tempos mudaram, são modernos, a vida é outra. Entretanto, Jesus não deu nenhuma “dica” de que ele quer outra coisa para os tempos atuais. 

Santa Teresa D’Ávila nos diz:

“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa! Deus nunca muda! A paciência tudo alcança! Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta”!

Ou como disse o cardeal Van Thuan, bispo no Vietnam, dias após sua prisão, dias de angústia, na qual ficou por nove anos na solitária e mais quatro no convívio com os demais, ao ver que tinha deixado inúmeros trabalhos apostólicos na diocese:

“Quando percebi que nada mais eu poderia fazer, que todo o trabalho apostólico ficaria parado, ou apenas nas mãos dos leigos, percebi também uma verdade: Eu escolhi Deus, e não suas obras”!

Eu sempre me lembro da minha professora de catecismo, que dizia: “Eu sou nota nove”! Depois de uma pausa, diante da surpresa de quem a ouvia, achando-a orgulhosa, ela concluía: “”Noves fora, nada”! E ria gostosamente.

Como Isaías 54,10, sei que “Meu amor nunca de ti irá se afastar, diz o Senhor”. Ou Isaías 44,21: “Nunca vou te esquecer”!

Ou ainda Isaías 49,15-16: ‘Ainda que a mãe se esqueça do filho que gerou, eu não me esquecerei de ti, diz o Senhor. Eu te tatuei na palma de minha mão”!


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