sábado, 20 de maio de 2017

EXPERIÊNCIA CISTERCIENSE


MISSA DE ANGELIS- (YouTube)

Um amigo meu fez uma experiência monástica num mosteiro que fica no interior do Estado. Ele quis fazer uma experiência de vida contemplativa.

Deram-lhe a maior cela do noviciado: uma cama, uma pia, uma mesa e um guarda-roupa. Ele ficou, portanto, no “coração” da casa.

Suas janelas davam para um bananal, em que ele trabalhava no período da tarde, desmatando-o: o capim “gordura’” estava do tamanho de um metro.

Meu amigo chegou ao mosteiro à noite. No dia seguinte acordou com os monges, às 4:30h, e às 5 horas já estava com eles do Ofício das Leituras, Laudes e meditação particular.

Chamou-lhe a atenção o fato deles valorizarem e muito o sacerdócio! Meu amigo era considerado “mais importante” do que eles! Isso ajudou-o muito na compreensão de seu sacerdócio, da dignidade mas também da responsabilidade sacerdotal.

Às 7 horas eles foram para a missa conventual na igreja pública do mosteiro, mas meu amigo combinou de celebrar a missa para alguns monges que não podiam ir à igreja por vários motivos, sobretudo de saúde.

Às 7:45 h foi servido o café, com pão feito em casa, manteiga e mel (produzido lá mesmo).

Após o café, pelos quatro meses, ele tomou a incumbência de transcrever os sermões de um dos monges, muito inspirados, para um livro. O livro foi impresso e ele ganhou um exemplar (eu tive a oportunidade de ver esse livro). Realmente, os sermões eram inspirados. Ele gostou muito de ouvi-los para digitá-los.

À tarde ele capinava entre as bananeiras, também num certo caminho de via-sacra num pequeno bosque, e o cemitério deles e a horta.

Às 9 e às 15 havia uma pausa para a Noa e a Tértia (oração das 9 e das 15). Às 15:15h havia um lanche (que ninguém é de ferro), constituído por frutas ou café com leite e pão ou com bolo ou coisas desse tipo.

O almoço vinha precedido da oração do meio dia e seguido de um tempo de descanso até às 13 horas quando se reiniciava o trabalho.

Às 17 horas se parava o trabalho e quem quisesse podia tomar banho. Logo após havia as Vésperas, o jantar e um tempo em que a conversa era permitida, num espaço de uma hora mais ou menos. Às 20:30 todos iam para a igreja rezar as Completas (oração para o repouso noturno) e se recolhiam às 21 horas, em que se observa o silêncio rigoroso.

A alimentação era frugal, pouca carne. Muitas vezes a mistura era apenas batata doce frita.

Em todas as refeições são lidos livros: no café da manhã, a Imitação de Cristo e a Filotéia (de S. Francisco de Salles). No almoço e no jantar, um romance de aventura “light”. Nos meses em que ele ficou lá, foi lido um livro sobre o  desbravamento do Polo Norte.

Televisão, nem pensar. Jornal, só de três dias atrás, o Estadão. Só em grandes ocasiões se via tevê, como na visita do Papa ao Brasil, numa sala especial.

O cemitério é feito de covas rasas, apenas com uma cruz e o nome do monge falecido.

O vinho é servido nas grandes festas religiosas e quando morre um monge. Aí pode-se conversar no almoço, que é feito apenas com uma leitura do evangelho. A morte do monge é tida como a festa de sua entrada no céu. Isso é que é fé!

Ele tinha dificuldade em rezar com os monges, pois não tinha se exercitado para isso e pediu ao superior que o deixasse rezar as orações fora do grupo dos monges, porque não sabia acompanhar aqueles belos cantos gregorianos e tinha medo de errar. Ele permitiu. Ele rezava ali mesmo, mas sem fazer parte do grupo. Eles têm um costume rígido. Por exemplo, quando um monge erra na melodia dos salmos, tem que ajoelhar no meio da igreja como pedido de perdão! 


As bibliotecas eram um caso à parte. Havia duas: a que ele frequentava, dos noviços, e uma outra, fechada a sete chaves, em que só os monges podiam entrar, por causa dos livros raros que ali são guardados. Ele apenas a visitou, acompanhado de um monge, e viu uma bíblia autografada por Santo Antônio Maria Claret!

Em seu trabalho externo de capinar era acompanhado, vez por outra, de um ou dois noviços, com quem trocava ideias sobre aquele tipo de vida. Outros três trabalhavam na limpeza interna. Ele limpava dois pátios, além do que já mencionei.

Uma das conclusões a que chegamos é que é loucura querer viver um tipo de vida desses sem ter uma profunda vocação. Quem a procurar por timidez, ou por não querer enfrentar os problemas que o cerca, não vai aguentar: vai cair numa depressão profunda. Não é uma vida fácil!

Entretanto, diz meu amigo: “nunca vou me esquecer das horas maravilhosas que ali passei, diante do Santíssimo, naquele silêncio delicioso! Eu me sentava no chão da capela dos noviços, quando estava sozinho, para fazer a Hora Santa seguida da Via-Sacra”.

O bosque também é propício para uma boa e silenciosa caminhada: as árvores são altas, com bastante espaço para se transitar entre elas.

Meu amigo diz também que meditou também muito sobre a Eucaristia, com um livro do Pe. Teilhard de Chardin: quem comunga, como numa corrente elétrica, recebe toda a energia positiva contida na Eucaristia, que a absorveu dos “elementos cósmicos que a rodeavam” (diz o T. Ch.).

A Eucaristia absorve tudo o que é bom ao seu redor e neutraliza tudo o que é mau.

Concluindo, diz ele que aproveitou muito esses meses de mosteiro e que nunca vai se esquecer da hospitalidade. No refeitório há sempre uma mesa preparada com pratos e talheres para possíveis visitantes.

Concluo este relato de meu amigo lembrando que precisamos encontrar mais tempo em nossa vida para uma oração vibrante, gostosa, como aquela chuva fina que vence a seca pela constância em cair, mesmo fraquinha. Aprendemos a rezar, rezando. Se a gente acrescentar 1 minuto por semana à nossa oração, vamos estar rezando uma hora a mais no final de um ano.

Também há o fato de aprendermos a nos colocar desarmados diante de Deus, pobres, humildes, desnudados de nossas vaidades e ambições, a fim de nos capacitarmos num melhor atendimento das pessoas e nos achegarmos, por meio delas, a Deus. 

Demos sempre graças a Deus, por todas as oportunidades de crescimento que Ele nos dá! 

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