sábado, 17 de outubro de 2015

PEQUENO CONTO – KEIKO


Em 1969, para pagar a faculdade meu amigo tinha que trabalhar como secretário e porteiro num clube. A Keiko era uma das japonesas que vieram disputar o campeonato de basquete do clube. Havia na secretaria um piano. Ela fora lá para conhecer as dependências internas, à noite. Elas ganharam o jogo. Meu amigo tinha 24 anos, e esse foi mais um amor que ele perdeu sem ter começado.


Os sons do piano ecoavam pelo salão e as mais lindas melodias faziam-se ouvir, chegando a embalar em sonhos, o seu coração.

Ela era tão linda! E suas mãozinhas ágeis corriam pelo teclado como duas frágeis andorinhas gorjeiam pelo vale florido.

Ele a viu, se lhe achegou, e sorrindo, trocaram um olhar. O seu coração bateu mais forte e percebeu que o dela também acelerou. Colocou-se a seu lado e conversaram uma conversa sem palavras: eles se entendiam pela música, que saía de suas mãos, pela luz que saía de seus olhos.


A dado momento, a um pedido dela, ele colocou-se ao piano para tocar alguma música que mais tocasse o coração naquele instante. Olhou ao redor: a festa findava. Olhou para ela, num olhar triste, percebendo que chegara o adeus.


Tremendo de emoção, sentindo no peito uma dor, ela correspondeu - lhe com um beijo de adeus. Ele iniciou, então, os primeiros acordes da valsa da despedida. Ela, tão triste quanto ele, segurou sua mão direita, impedindo-lhe que ele tocasse, e implorou: "Por favor, não toque essa música! Ainda voltarei!" E sorrindo, para não chorar, apertaram suas mãos, abraçaram-se, olharam-se profundamente. Em seguida, ela saiu apressadamente, com seus passinhos delicados, colhendo em seu lencinho uma lágrima de dor.


Pelo resto de sua vida, sempre que ele toca essa valsa, lembra-se, com dor no coração, da garota nissei que nunca mais voltou!


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