segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POESIAS - DA MINHA JUVENTUDE 03

 

OPÇÃO

(30/06/1977)

J-XII

O jovem vagueou, às tontas,

pelos caminhos do mundo,

em busca de afeto,

em busca de carinho,

sem saber existir alguém,

-ou algo-

mais profundo

 que o olhar do jovem

embaçado pelo vício,

que a mulher coisificada

 vendendo seu corpo,

que a poluída fumaça dos cabarés,

que as vazias orgias

 das aventuras noturnas.

 

Sim, ele vagueou às tontas,

sem rumo,

sozinho,

buscando o dinheiro vil

que tudo quer comprar,

cansando-se atrás de perdidas ilusões...,

e se extenuou.

Ele se cansou de existir,

eu me cansei de sonhar,

de viver,

e se perdeu.

Ele se perdeu num desespero insano,

de um mundo louco,

de um mundo sujo,

até que um dia,

na tristeza de uma tarde de julho,

sentado num banco de uma praça suja,

banco sujo,

num mundo podre,

viu um pobre, que lhe pediu uma esmola.

Para zombar dele,

em vez da esmola,

o jovem lhe deu uma flor.

Uma flor linda!

Perfumosa!

Brotada do meio do esterco,

brotada no meio daquele jardim poluído,

brotada naquele mundo imundo!

 

E o pobre,

olhando a flor,

com intensidade,

com curiosidade,

olhou-o fixamente

-e sorriu.

-e começou a cantarolar.

pulando de alegria,

ao se retirar dali feliz.

O jovem também sorriu.

Olhando para o infinito,

chorou.

Essas lágrimas o purificaram.

Viu então um mundo novo!

E olhando outra vez para o céu,

tão poluído,

por entre as árvores da praça,

Ele te reencontrou,

Senhor,

e caiu a teus pés,

Meu Deus!


APAGAR O SORRISO!

(inspirada numa poesia do José Pedro D.)

(18/08/1977)

J-XIII

O "outro" já se foi...

posso agora apagar este sorriso

que ainda resta em meus lábios!

 

Apagar este sorriso

e voltar a mim mesmo,

 e poder curtir, sozinho,

 as minhas dores.

 

O "outro" chegara chorando,

mas, vendo o meu sorriso,

 vendo em mim uma paz

que talvez não seja minha,

 mas de Deus,

foi embora sorrindo...

 

Mas eu preciso parar de sorrir,

 pois meu coração está chorando,

dando gritos de angústia,

soltando uivos de dor!

 

Por que deveria eu

 continuar sorrindo,

estupidamente

enquanto chora o meu coração?

Acaso pode,

este sorriso

 ainda estampado em meus lábios,

dispensar-me do carinho,

da mão delicada e suave

de uma esposa a me acariciar?

 

Acaso pode,

este sorriso idiota,

dar-me o prazer

da intimidade de um lar,

de meu lar,

 que nunca possuirei?

 

O "outro" se foi...

 alegre, sorrindo!

 E eu fiquei sorrindo, também,

 mas...

 chorando!

 

E quando eu já começava

a apagar de meus lábios

 aquele sorriso bobo,

 demonstrando uma paz

que não é a minha própria,

 mas que vem de Deus,

um outro "outro" veio,

a chorar,

 e debruçou-se em meus ombros,

 e eu precisei sorrir,

 também para ele,

 e o ajudei,

e o consolei,

 e falei-lhe de Deus.

 

E ele também se foi sorrindo!

Mas eu fiquei,

mais uma vez, sorrindo,

 mas chorando!

 

Senhor, 

até quando vou conseguir

 trazer este sorriso

 que consola,

que anima,

que orienta,

 e não desanimar?

 Até quando vou continuar

 a transformar lágrimas em sorrisos,

 tristeza em alegria,

 ódio em amor,

 trevas em luz?

 

Quando, Senhor,

vou poder curtir

   minha intimidade,

sonhar minhas lembranças,

sorrir, sim,

 mas apenas quando estiver disposto para isso? Quando?

 

Nessa noite, sonhei com Jesus

que me apareceu e disse:

 

"Meu filho, venha a mim,

quando o seu fardo estiver pesado,

e eu o aliviarei!

 Venha chorando,

 e você também sairá sorrindo!

O meu sorriso,

 o meu consolo,

 é eterno!

É próprio de mim!

Eu o conquistei com a cruz!

 Sorria e console,

 até que "Deus seja tudo

em todos!"



ORAÇÃO DE UM MONGE NO SILÊNCIO DA TARDE

(ESCRITA EM 1977, a um monge de Serra Clara).

J-XIV

Senhor, eu te peço, com todas as minhas forças,

que me deixes sempre te contemplar,

no teu silêncio, no teu amor.

 

Deixa-me, Senhor, te contemplar na música silenciosa e doce, neste "adágio" sublime de grilos e de pássaros, de farfalhar de folhas, que canta a mãe natureza!

 

Deixa-me, Senhor, te contemplar no silêncio do teu sacrário, na penumbra da acolhedora igreja, que meus antepassados aqui construíram, no alto desta montanha!

 

Deixa-me, Senhor, te contemplar, enfim, no conjunto todo desta natureza, que criastes tão perfeita, e que, com uma adoração inconsciente, com seu mutismo de louvor, te presta homenagem...

 

Mas...

Senhor, permita-me também que eu te contemple nos jovens, nos adultos, nos sacerdotes, nos leigos, nos seminaristas, todos eles com defeitos, sem nenhum dos encantos desta natureza perfeita e bela que me circunda, que aqui vêm te procurar! Eles aqui chegam sedentos de ti!

 

Não permitas, Senhor, que daqui eles saiam, que voltem às suas casas, sem haverem te encontrado! E também a mim, Senhor, e aos meus irmãos do monastério, não permitas que nós os deixemos de lado, não permitas que nós não te contemplemos neles, ao nos embebedarmos com a natureza perfeita e bela.

 

De fato, é tão grande, Senhor, tua presença no silêncio, na simplicidade que corremos o risco de nos esquecermos do restante do mundo.

 

Senhor, Deus de amor e bondade, ajuda-me a te amar, a te contemplar nas pessoas que aqui te procuram, nas criaturas que aqui vivem, na atmosfera de louvor e de amor que nos circunda!

 

PREZADO MONGE!

(31/10//1077, do Mosteiro de Delfim Moreira, MG)

J-XV

Gostaria de partir da cidade pro sertão,

da fumaça fugir,

pra alegrar meu coração...

Serra Clara é uma beleza,

não encontro tal aqui!

Viver bem com a natureza,

aqui nunca consegui!

 

Ser "vigário à paulista"

meu amigo, é uma dureza!"

Todo dia há uma boa lista

de tarefas em minha mesa!

 

Sendo assim, só nas férias de janeiro,

é quase certo,

deixarei as coisas "sérias"

e estarei de Deus mais perto...

 

Partirei pra Serra Clara

ver as plantas do Emanuel,

a terrinha tão preclara

de onde emana leite e mel!

 

Aos amigos, meu abraço,

e ao prior, Dom Celestino,

que os guia sem cansaço,

como às cordas de um violino!

 

Por aqui eu vou ficando,

com saudades do "sertão".

Com os fiéis eu vou rezando,

com amor no coração.

 

meus amigos, um adeus,

por agora vou lhes dar.

Rezem muito, pois pra Deus

este mundo melhorar.



MON AMOUR TRÈS PETIT

10/09/1977

(ao mosteiro de Serra Clara)

J-XVI

Senhor,

aos vossos pés falo-vos de amor.

Não do vosso,

mas do meu amor,

tão mesquinho,

limitado,

magrinho,

frágil,

mas é o único que tenho no momento.

Não possuo outro!

Quero vos amar, Senhor,

apesar disso tudo,

na fraqueza de minha vida,

deixando meus desejos egoístas,

consolações e prazeres.

Como dizia a santa das rosas:

"Ma paix, c'est de rester petite;

aussi, quand je tombe en chemin,

je puis me relever bien vite,

et Jesus me prend par la main"!

Assim eu também!

Jesus, quero fazer consistir, minha paz,

em permanecer pequeno diante de vós,

para, quando cair,

bem depressa eu possa me levantar,

encontrando segurança em minhas mãos!

 

Eis-me, Senhor, sou vosso!

Renunciei a tantas coisas para ser padre,

mas quero uma renúncia total!

Quero renunciar a mim próprio!

Mesmo com um amor microscópico,

assim mesmo eu vos amo!

Senhor, quero continuar a ser vosso,

todos os dias de minha vida!

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