segunda-feira, 30 de setembro de 2013

POESIAS - DA MINHA JUVENTUDE 01

 

LÁGRIMAS TURVAS

(1962)

J-I

À noite tu contemplas calmamente

o majestoso luar encanecido

 da lua, que desliza docemente,

no céu eternamente adormecido.

 

As nuvens, como espumas elevadas,

belos flocos que correm velozmente,

relembram aventuras já passadas

que acabaram tão assim rapidamente.

 

Relembras, talvez, tua infância amada,

onde a inocência pura te envolvia,

onde reinava, em festas, a alegria.

 

Agora, com saudade e nostalgia,

vês a lua tão trêmula e embaçada

por tuas frágeis lágrimas turvadas...



MEUS DEZESSETE ANOS

(02/04/1962.Escrita em 21/11/1962)

J-II

Era noite - e eu estava contemplando

a beleza de um céu todo estrelado,

vendo a lua, inebriante, deslizando no espaço;

-e o luar, tão belo e prateado da lua,

era um sorriso que, vagando,

chegava todo, à terra, enamorado.

 

Neste cenário,

 tão belo e encantador,

já quase em êxtase

ouvi uma voz,

querida,

que, docemente e com amor,

interpelou minha alma dolorida:

 

"Sou o teu Redentor!

Em cada ser, ressoo minha voz.

Quero te confiar,

 ó jovem hesitante,

o desejo por qual tanto sofri.

Meu filho!

Eis-me aqui, suplicante!

dá-me o teu coração!

Morri para dar-te,

se fores constante,

 a eterna mansão, que te sorri"!

 

Compreendi o que, em lágrimas,

Jesus expressara num íntimo querer.

 Joelhos ao chão, braços em cruz,

respondi-lhe chorando:

"o teu sofrer

arrebata-me ao céu

e me seduz.

A ti converto meu parecer"!

 

"Tenho dezessete anos.

Minha vida é uma grande esperança

de um mundo justo e santo!

Em meu peito,

ainda tão jovem,

há uma lacuna

de virtudes ainda a conseguir!

No entanto,

peço-te forças!

Converte minha fraqueza

 em alegre canto!

Jesus!

Quero me tornar um adulto santo,

coração puro"!

 

"Ajuda-me e eu o serei!

Viver sem pecar, como é duro!

Ah! Mas como é belo em ti assim morrer,

quando se espera o céu, de modo seguro,

como se espera, ansioso,

 o amanhecer"!

 

"Senhor!

Também desejas

Que eu sorria sempre,

sempre sorrir,

cantando,

mesmo com a alma partida,

Mesmo com coração sangrando"!



TEUS 18 ANOS...

(Ao amigo José Pedro D.-19/10/1962)

J-III

Te vi a sorrir, certo dia, num campo,

colhendo uma flor, junto a outras mais belas.

Mas pude entrever rosas brancas num canto,

e rosas vermelhas, mas poucas, entre elas.

 

Então perguntei quantas rosas em tanto

colheras no campo, tão cheio de flores...

Quisera dissesses a mim, entretanto,

Por que tu escolheste somente estas cores?

 

Com grande tristeza dissestes então:

"Dez rosas branquinhas, colhi-as cantando,

pois são minha infância, em dez anos passando."

 

"As oito vermelhas, colhi-as chorando,

pois elas unidas me põe em menção

os anos de angústia do meu coração!"



HOMENAGEM À D. MEIRE

 (Mary Dora d'Arenzo Favoretto)

(ver também sobre ela a poesia SURSUM CORDA)

(13/05/1963, ano de sua morte, 43 anos de idade)

J-IV

Silêncio...

há um corpo sem vida,

no meio da longa avenida,

embaixo do carro fatal.

O povo, curioso,

se acerca, no palco horroroso,

da cena tão triste e feral.

 

Dona Meire!

Que mestra, tão terna e serena,

tu foste, na vida terrena,

aos jovens, tesouro sem par!

Formando um caráter,

formando uma alma,

não vias perdida tua calma,

na escola,

na rua,

no lar.

 

Silêncio...

Silêncio na tarde enfadonha...

Silêncio em tua boca risonha...

Teus lábios não mais falarão!

No asfalto, de fosco negror,

findaram -se teus sonhos em flor,

os sonhos do teu coração!

 

Silêncio...

Silêncio no olhar dos queridos,

e amigos,

que choram, sentidos,

a ruína tão triste de um lar.

O teu maternal coração,

agora já fora de ação,

não mais poderá lhes amar.

 

Silêncio...

na escola, no lar, o silêncio...

No céu, entretanto, um incenso,

intenso,

com grande alegria,

unido à Maria,

subindo...

subindo...

adora, em perene louvor,

seu Deus, o supremo Senhor.

Quem tudo na vida a Deus deu,

sempre viverá - nunca morreu!



OS 19 ANOS DE UM ALCOÓLATRA

Escrita em 12/08/1965

J-V

De sua alma triste,

aquele jovem alcoólatra

 sente morrer-lhe a esperança

de seu coração retornar à alegria;

sente o seu amor afundado na lama,

deste mundo louco, na melancolia.

 

Este seu amor, que agora dá ao mundo,

(oh! quanta saudade!)

ele o dava a Deus,

numa vida santa, numa vida alegre,

livre da bebida, dos vícios, dos pecados seus.

 

E essa vida santa, em cinzas se acabou,

Essa vida alegre não pôde mais viver.

Esta vida triste - continua triste,

este seu amor, continua a morrer!

 

Aquele jovem alcoólatra sente,

em sua alma

 findar-se a alegria!



O COMODISMO DO ACOMODADO

(OU: O TREM SUPERLUXO)

J-VI

(Escrita em abril de 1969, num daqueles trens superluxo da Sorocabana).

 

Do interior deste trem,

hermeticamente fechado,

vejo a natureza silenciosa...

Que estranha sensação

é olhar os efeitos do vento

mas não ouvir o farfalhar das folhas!

Ver o passarinho

mas não ouvir o seu canto!

Ver o sol radiante,

mas não sentir o seu calor!

Ver, enfim, a natureza toda,

sem poder senti-la!

Eu estou num trem,

hermeticamente fechado,

com ar condicionado,

poltronas macias...

 

e não posso ouvir as vozes da natureza,

mas ouço a do meu coração,

que me atinge,

quando vejo lá fora

as paupérrimas casas

fora do trem superluxo!

Essa voz do meu coração

clama por socorro,

clama por justiça!

Mas eu estou num trem,

hermeticamente fechado,

com ar condicionado,

numa macia poltrona,

num sublime conforto,

...e adormeço!

Nenhum comentário:

Postar um comentário