sábado, 26 de agosto de 2017

A VIDA RELIGIOSA


Vida religiosa é a vocação de pessoas que vivem em pequenas comunidades, numa congregação religiosa, fazem os três votos: de castidade, de pobreza e de obediência (algumas fazem um quarto voto, que varia de congregação para congregação) e obedecem a um superior local, que, por sua vez, obedece a um superior regional e nacional.

Muitos jovens me perguntam como fazer para entrar na vida religiosa.

A primeira coisa é ter amizade, entrosamento e participação na paróquia em que você vive.

A segunda é ter uma vida de oração, não de orações rápidas, mas um pouco mais prolongada. A oração é a base da vida religiosa.

Terceiro, tem que saber obedecer. Quem tem dificuldades para obedecer não dá certo na vida religiosa.

Quarto, é preciso saber controlar os instintos, já que a vida religiosa não tira as tendências de ninguém. Por toda a vida, até mesmo na velhice, os instintos continuam vivos.

Quinto, é preciso ter certeza de que você não está buscando a vida religiosa para fugir de si mesmo (timidez, preguiça de trabalhar, comodismo) ou de alguma coisa exterior (incapacidades, defeitos, frustrações, falta de emprego etc).

É bom conversar com um religioso aí de perto de você sobre o assunto, e ser sincero para com ele. 

A vida religiosa não é brincadeira, não é algo romântico como se apresenta em alguns filmes, como o “Irmão Sol, Irmã Lua”, de Franco Zefirelli. 

Durante o seminário menor de uma congregação missionária eu ouvia falar muito das missões de modo poético. Havia um livro de poesias missionárias muito bonito, mas o autor mesmo do livro deixou o sacerdócio, casou-se e morreu no ano passado, bem idoso.

Uma de suas poesias era “O Barco da Madrugada”, que até foi musicada. Eu me lembro apenas de algumas palavras: “O barco da madrugada, vai me engolfar noutro mar. Direi adeus pátria minha, o último adeus talvez. E se Deus quiser que eu não volte outra vez, meu coração te deixo, ó Mãe Celestial. Não tenho medo das águas, nem fúrias do furacão. É sorte a quem os céus busca achar sua tumba no mar”. 

O jovem era levado por essas poesias e fantasias sobre a vida religiosa e se decepcionaria, mais tarde, ao ver que ela é feita de pessoas humanas limitadas, e muita renúncia. É fácil imaginar uma vida bonita, dedicada a Deus, baseada na renúncia, mas é difícil praticar essa vida. A natureza humana é muito forte e nos arrasta para a “sensualidade”, como diz Santa Catarina de Sena, até a mais extrema velhice. 

Vemos pessoas que vivem a vida religiosa falarem dela com prazer, como algo sublime, mas, se entrarmos em sua vida íntima, veremos quantas provações aquela pessoa vive para se manter intacta. Sobretudo, é necessária muita oração. 

A alegria de quem segue sinceramente esse tipo de vida é autêntica. Realmente, quando nos santificamos na vida religiosa, sentimos uma paz profunda e inexplicável, mesmo com os problemas e sofrimentos do dia a dia. Quando “nós nos temos em nossas mãos”, como dizia Dom Luca Moreira Neves no retiro de minha ordenação sacerdotal, ou seja, quando vivemos de modo a dominarmo-nos plenamente, a alegria é constante em nossa vida, por mais árido que seja o ambiente em que vivemos.

Mais uma vez repito, esse auto domínio, baseado no que Santa Catarina de Sena chama de auto conhecimento (só tem um auto domínio quem se conhece plenamente e humildemente assume suas fraquezas para melhor dominá-las), só é conseguido pela oração humilde, pela sinceridade em nos apresentarmos a Deus como somos realmente, com todas as quedas e fraquezas, e não como gostaríamos que fôssemos. 

Em resumo: quem abraça a vida religiosa pensando que é forte e que vai conseguir santificar-se sozinho e com pouca oração é, no mínimo, ingênuo. Só com a ajuda de Deus é que podemos nos santificar. Sozinhos, nada conseguiremos. Por isso é que é preciso que antes de se doar a uma vida dessas, a pessoa reflita se tem verdadeiras condições psicológicas, físicas e espirituais para isso.

Eu explicaria assim aquela parábola de Jesus sobre o construtor que começa a casa e não pode terminá-la porque faltou dinheiro. Ele termina a história dizendo: “"Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo." (Lucas 14, 33). Muitas vezes vamos ter que renunciar às próprias ideias para podermos progredir no caminho da santidade. Deus sabe melhor do que nós do que realmente precisamos.

Teófilo 

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