terça-feira, 22 de dezembro de 2020

A ÁRVORE DE NATAL

(Encontrei este artigo meu num jornalzinho paroquial de 25/12/1985. Precisei acrescentar algo, pois estava faltando um pedaço do jornal). 
Editado em 11/07/2020 
Os sinos já estavam chamando os fiéis para a Missa do Galo e uma família pobre se aprontava para ir participar dela. Um deles, José, 12 anos, havia encontrado uma pobre árvore de Natal murcha numa calçada defronte a uma mansão, e a levara para casa. Estava ainda com o torrão. Até aquela hora em que saíam, a árvore não tinha voltado a ser viçosa. José a enfeitara com papéis brilhantes e algodão. 

A história dessa árvore teve início quando, durante a semana, um empregado da família Jones a comprou numa floricultura. Pagou caro, pois a árvore era bem podada e de qualidade. 

Já na sala, toda feliz, a árvore de Natal aguardava ser enfeitada com luzes e adereços. Saíra daquela floricultura, onde havia nascido, até que o empregado dessa família rica fora lá comprá-la. 

Quando chegara à mansão, um frio percorreu- lhe o corpo, digo, o tronco: que lugar frio, apesar do verão! Uma imensidão de salas, quartos, lustres, aparelhos eletrônicos, tapetes felpudos, escadarias... 

Na manhã seguinte, presenciou uma cena triste: a menina, filha do sr. Jones, gritou com a mãe por causa de um par de sapatos que esta comprara. Custou caro! Mas a mimadinha da mamãe não gostara da fivela. Jogou os sapatos aos pés da mãe, que parecia continuar indiferente: “Comprarei outros”. 

A arvorezinha murchou suas folhas. Tinha medo. Seriam as pessoas tão más assim? Ouvira, lá na loja, pessoas que falaram do Natal de um menino-Deus que nascera pobre, numa cocheira, por amor a toda a humanidade. “Bem” pensou ela, “neste lugar esse menino-Deus nunca gostaria de estar!”. 

À tarde, outro fato mais triste ainda: o sr. Jones, ao telefone, que estava quase ao seu lado, despedira 20 trabalhadores de sua firma, por terem pedido para não fazerem horas-extras, pois estavam ficando na fábrica por 16 horas todos os dias! “Que coisa maluca” -pensou a árvore. Como será triste o Natal desses coitados! 

Num segundo telefonema, o sr. Jones encomendou pelo encarregado das finanças 10 litros de uísque importado, caviar (que ninguém é de ferro), faisão, lagosta. Pediu também que levasse o Júnior para escolher sua motoneta nova. 

Num terceiro telefonema, encomendou um carro zero km para sua esposa. O que ela usava parecia já estar muito usado: quinze mil km... 

A arvorezinha queria sair correndo dali, se pudesse. Murchou mais ainda suas folhas, assustada com tudo aquilo. “Sou tão simples! Basta-me um pouco de água e adubo para viver. Para que tudo isso? Deus é tão simples! E essa gente se empanturra de coisas inúteis! E os 20 coitados que esse homem demitiu de sua firma em plena semana do Natal? Meu Deus, como há injustiças neste mundo”! 

E a pobre arvorezinha ficou encolhidinha em seu cantinho. Nisso, a senhora Jones passou por ali, olhou aquela árvore horrível, que ainda não tinha visto, murcha, sem vida, e pediu que a empregada viesse pegá-la e jogá-la fora. “O que pensou o nosso encarregado ao comprar isso? E mandou comprar no Shopping uma árvore de plástico. 

A árvore de Natal, sendo arrancada de seu vaso, foi parar na rua. Sem água, desfaleceu. Só lhe sobrara um torrão de terra em suas raízes. 

Após algumas horas, “voltou a si” novamente. Estava numa casa pobre e humilde, da periferia da cidade, mas muito acolhedora, limpinha. Estava enfiada numa lata velha, que o José, garoto pobre, tentava enfeitar com papel de embrulho. Ele lhe dizia: “Você vai ficar bonita aqui, minha árvore de Natal! Que sorte tê-la encontrado jogada em frente daquela casa chique! Você vai ver! Vou enfeitá-la com algodão e papel brilhante. Você vai ficar linda! Pena que você está murcha! Já coloquei água, mas acho que não vai adiantar!”. 

Nisso, chegou a mãe, do trabalho, com o pai. “Mãe”, perguntou o garoto, o que vamos comer no Natal”? A mãe respondeu: “Só temos arroz e couve. Não pudemos comprar mais nada. Nem um franguinho. A doença de sua irmã mais nova levou todo o 13º salário nosso”! O menino ficou triste, mas sua tristeza desapareceu ao ver sua árvore. Afinal, tinha uma verdadeira árvore de Natal! E a mãe nem lhe contara que seu pai fora um dos demitidos da firma do Sr. Jones! Mas Deus iria lhe conseguir um outro emprego. Ela confiava muito em Jesus e Maria, católica como era. Aliás, todos ali eram católicos fervorosos. 

A arvorezinha, por sua vez, sentiu suas forças voltarem. Sentia-se mais à vontade naquele local pobre e santo. 

Essa foi a trajetória da árvore. Quando chegou a véspera de Natal, que mencionávamos no início, todos foram à Missa. Durante esse tempo, a água que o garoto colocara por várias vezes no vaso chegaram até às mais pequenas folhas da árvore e ela ganhou vida novamente. 

Chegando da Missa, ao acenderem a luz da sala, José soltou um grito de emoção, com lágrimas nos olhos. Que surpresa! A pequena árvore de Natal, enfeitada com a tiras de papel brilhante, tinha todas as suas folhas bem verdes, estava exuberante de vida! 

E, naquela noite de Natal, na simplicidade e pobreza daquele casal com seus 7 filhos, nove sorrisos se estampavam nos rostos magros. Ceia de Natal com arroz e couve. Mas todos estavam alegres. Até a árvore de Natal. E ninguém mais, além dela, podia ver, mas Jesus também estava ali, no meio deles, e Jesus sorria também! 

(ofereço este texto em homenagem a um casal já falecido, J.F.C. e a dona F.C., que tinha nove filhos. Eram meus paroquianos. Num dia de Natal passei por lá para felicitá-los e estavam comendo arroz, feijão e a mistura era cebola frita. Eles me convidaram. Um almoço festivo e rico, à italiana, estava me esperando na casa de meus pais. E eu, com compaixão no coração, sentei-me ali e comi arroz, feijão e cebola frita com os dois e seus filhos. Eu havia levado algumas caixas de bombons, e foi a sobremesa festejada pelos filhos. Anos já se passaram, mas eu nunca me esqueci desse almoço de Natal. Foi um dos meus melhores!). 

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